terça-feira, 1 de maio de 2018

VIDA CIVIL E SIGNIFICADO PRÁTICO DO SABER EM GIAMBATTISTA VICO


De acordo com Vico, o conhecimento tem uma finalidade, por isso a crítica que ele dirige aos eruditos, tanto aqueles da tradição quanto os de seu tempo. Objetiva demonstrar que a finalidade do conhecimento é o aperfeiçoamento, mediante a instrução do individuo e a preservação do patrimônio cultural adquirido. Daí sua preocupação com a manutenção e o estudo das coisas relacionadas ao mundo civil. As críticas endereçadas contra uma sapiência sem conteúdo, destituída de qualquer relação com o mundo humano e utilizada somente como adorno de erudição, tinham por principal meta uma valorização da filosofia tópica em oposição a uma filosofia critica[1], em particular quando da antecipação desta no método de ensino [2].
Herdeiro da tradição retórica, Giambattista Vico teve o discernimento, a determinação e o empenho de difundir o significado prático do conhecimento. Buscou, mediante seus escritos, transformar e tornar as vias que conduziam ao saber, um tanto quanto mais seguras. O caminho do conhecimento deveria ser percorrido sem receios de percalços, e a aquisição de erudição implicava esforços, labuta: daí suas críticas aos manuais da época. Tais manuais “facilitavam” demasiadamente a obtenção de erudição. Dizia ele que muitos preferiam a facilidade e praticidade desses manuais [3].
Suas preocupações com essas questões moveram-no a escrever alguns escritos que tratavam desses problemas: as Orazioni Inaugurali, o De ratione e a Vita. Contra aquelas filosofias que punham em risco a civilidade, Vico contrapôs as doutrinas daqueles pensadores que denominou de “filósofos políticos” [filosofi politici], entre os quais contavam Platão, Aristóteles, Cícero, Quintiliano etc. Todos aqueles autores que tiveram por preocupação a vida política e moral. De acordo com Vico:

Ao mesmo tempo as obras filosóficas de Cícero, de Aristóteles e de Platão, todas trabalhadas em ordem para bem regular o homem na sociedade civil fizeram que ele nada ou muito pouco apreciasse a moral tanto dos estoicos como dos epicuristas, posto que ambas são uma moral de solitários: dos epicuristas, porque de desocupados fechados nas suas hortas; dos estoicos, porque de meditantes que se esforçavam para não sentir paixão (tradução nossa) [4].


Os juízos sensatos, que Vico formulou contra os métodos de ensino de seu tempo na busca do conhecimento e das vias para obtê-la, consideravam a mais tenra idade daqueles que se iniciavam nos estudos. Para tanto, ele considerou os próprios caminhos que percorrera[5]. Conforme Vico, levar as crianças e jovens às reflexões abstratas demasiadamente cedo, tornava-os inaptos à compreensão e entendimento dos problemas mais simples, em especial, aqueles da vida cotidiana. Nesse ponto, os antigos foram mais sábios, pois na educação de suas crianças os raciocínios matemáticos, muito utilizado nos manuais do seu tempo, estavam restritos à Geometria. Daí Vico escrever:


E às suas custas experimentou que às mentes alçadas ao universal pela metafísica não torna fácil aquele estudo próprios de engenhos minuciosos, e deixou de seguí-lo, pois que aquele que põe em grilhões e angustía a sua mente já avessa, de muito estudo de metafísica, a vagar no infinito dos gêneros; e com a constante lição dos oradores, dos historiadores e dos poetas deleitava o engenho entre coisas tão distantes liames que em certa razão comum as aproximando, que são as belas cintas da eloquência que fazem agradáveis as agudezas (tradução nossa)[6].


Para Giambattista Vico era mais adequado às crianças, além do ensino de geometria, útil para adentrar nos juízos abstratos, o estudo das línguas e dos historiadores. Tais estudos possibilitavam às crianças desenvolverem a engenhosidade, a fantasia e a memória. Vico diz que também acarretavam danos às mentes juvenis os manuais de Port Royal, conhecidos por Lógica de Arnaud. Tais manuais antecipavam nos jovens os raciocínios repletos de devaneios, distanciando-os do senso comum e do processo cognitivo natural das mentes ainda pueris. Daí provocarem nos jovens enorme prejuízo para sociabilidade e modos de expressão deles.


De modo que, com razão, os antigos apreciaram [como] estudo apropriado, para se aplicar às crianças, a Geometria, e a consideraram como uma lógica própria daquela tenra idade, pois à medida que compreende bem os particulares e sabe ordená-los fio a fio, tão dificilmente compreende os gêneros das coisas; o próprio Aristóteles, ainda que do método utilizado pela geometria tivesse extraído a arte silogística, até convém onde afirma que às crianças devam se ensinar as línguas, a história e a geometria como matérias mais apropriadas para exercitar a memória, a fantasia e o engenho. Por isso se pode facilmente entender com quanto prejuízo, com que cultura da juventude, hoje, no método de estudar, são utilizadas por alguns, duas práticas perniciosas. A primeira, que às crianças apenas saídas da escola de gramática se inicie a filosofia com base na lógica, [aquela conhecida por] lógica de Arnauld, toda repleta de severos juízos sobre matérias recônditas de ciências superiores, todas distantes do senso comum vulgar; (tradução nossa) [7].


O mais adequado, conforme Vico era que a criança fosse instruída, primeiro na Tópica, pois esta arte favorecia o desenvolvimento do ingegno, para depois ser instruído na Critica [8]. Este era a característica mais particular de uma mente que se encontrava em processo de formação. A não observância desse processo era o que acarretava aos jovens, que adentravam a sociedade, a incapacidade de conseguirem se expressar de modo conveniente e com pouca loquacidade. Nesse sentido, ele argumenta:


Mas, com tais lógicas, os jovenzinhos, transportados antes do tempo à crítica, que é o mesmo que dizer, levados a julgar bem antes de aprenderem bem, contra o curso natural das ideias, que primeiro aprendam, depois julguem e finalmente raciocinem, torna a juventude árida no explicar-se, e sem fazer mais nada, julgam todas as coisas. Ao contrário, se eles na idade do engenho, que é a juventude se dedicassem à tópica, que é a arte de encontrar, que é o único privilégio dos engenhos (como Vico, advertido por Cícero, empregou-se na sua), eles  preparariam a matéria para depois julgar bem, porque não julga bem se não se conhece o todo da coisa, e a tópica é a arte de encontrar em cada coisa tudo quanto está nela; assim de modo natural iriam a se formar,  os jovens filósofos e bem falantes (tradução nossa) [9].


As reflexões de Vico estavam alicerçadas no pensamento de quatro autores [quattro autori]: Platão, Tácito, Bacon e Grócio. Cada um desses pensadores, influenciando de modo particular a elaboração de seu pensamento. Os dois primeiros foram Platão e Tácito: o primeiro despertou-lhe para os raciocínios metafísicos e políticos, o segundo, que raciocinava metafisicamente, compreendia o homem sob os seus aspectos reais. Francis Bacon, pela erudição e prática governamental, concatenava o que havia de melhor tanto em Platão, quanto em Tácito. Hugo Grócio, pensador do jusnaturalismo, foi aquele que veio mais tardiamente, quando Vico já se encontrava com as ideias bem elaboradas, granjeou-lhe a simpatia pelo modo magistral com o qual fez uso da Filosofia e da Filologia[10]. Em sua Autobiografia, Vico explicitava as razões da sua escolha desses autores, de modo pormenorizado. Ele escreve:


Até [então] Vico admirava acima de todos os outros doutos, dois que foram Platão e Tácito; porque com uma mente metafísica incomparável, Tácito contempla o homem como [ele] é, Platão como deve ser; e como Platão com aquela ciência universal se estende a todas as partes da honestidade que cumpre o homem sábio de ideia, assim Tácito desce a todos os conselhos da utilidade, porque entre os infinitos e irregulares eventos da malícia e da fortuna se conduza bem o homem de sábio de prática. (...) Quando finalmente vem a ele noticia de Francis Bacon senhor de Verulamio, homem igualmente de incomparável sabedoria quer vulgar quer douta, como aquele que foi [ao mesmo tempo], um homem universal em doutrina e em prática, como raro filósofo e grande ministro de Estado da Inglaterra. E, deixando de lado seus outros livros, em cujas disciplinas tiveram talvez iguais ou melhores, naquele [seu] De augmentis scientiarum aprendeu tanto que, como Platão é o príncipe do saber dos gregos e os gregos não tinham um Tácito, do mesmo modo, um Bacon falta quer aos latinos quer aos gregos; que um só homem visse o quanto falte no mundo das letras que se deveria descobrir e promover, e de (...) quantos e quais defeitos seja preciso corrigir-se; (...) E, Vico tendo proposto estes três singulares autores desde sempre de tê-los diante dos olhos no meditar e no escrever, assim andou elaborando seus trabalhos de engenho, (...) (tradução nossa) [11].


Não obstante Vico citar quatro autores [quattro autori] principais para a formação de seu pensamento, a leitura de seus escritos denotam, no entanto, o contrário. Vemos o quanto foram relevantes outros autores, entre poetas, historiadores, gramáticos e jusnaturalistas. Ele resgata a relevância da Retórica, não em seu sentido vulgar de ser apenas arte de se expressar [12], mas, acima de tudo, como arte do convencimento, da expressão objetiva, emotiva e responsável. O retórico deve ter em vista, antes de qualquer coisa, um discurso do bem comum, ou das vantagens da vida em comunidade. Em suas Orações inaugurais [Orazioni Inaugurali] é perceptível que todas abordavam temas relativos à natureza humana, à religião e de ordem político-social. Como atesta a sua Autobiografia:


Por isso ele nas suas orações feitas, [por ocasião] da abertura dos estudos na régia universidade, utilizou sempre a prática de propor argumentos universais, extraídos da metafísica para o uso civil; e com este aspecto tratou ou dos fins dos estudos, como nas seis primeiras, ou do método de estudar, como na segunda parte da sexta e em toda a sétima. As três primeiras tratam, em especial, dos fins convenientes à natureza humana, as duas outras principalmente dos fins políticos e a sexta do fim cristão (tradução nossa) [13].


A primeira Oração Inaugural foi escrita em 1699. Nesse escrito, ele propõe de devermos utilizar todo potencial de nossa mente na busca do conhecimento. Como Deus é a mente de tudo, a mente do homem é para o próprio como uma divindade. A segunda Oração, escrita no ano seguinte, 1700, argumenta que devemos moldar o espírito em conformidade com o nosso intelecto, para o comando das nossas ações. O homem deve ter, por fim último, a verdade e a honestidade, e os sentidos devem ser submetidos ao raciocínio. Aquele homem que não segue este modo de conduzir-se age como se travasse uma batalha contra si próprio. Na terceira oração, recitada no ano de 1701 [14], Vico afirma ser a mesma um apêndice daquelas duas primeiras, e critica aqueles pensadores repletos de objeções que, encobertos sob o manto de uma falsa erudição, produziam textos de pouca ou nenhuma utilidade para a já demasiada abarrotada República das Letras. A seguinte passagem de sua Vita atesta essas considerações sobre as três primeiras orações inaugurais:
A primeira recitada em dezoito de outubro de 1699, propõe que cultivemos a força de nossa mente em todas as suas faculdades, (...) E prova ser a mente em via de proporção o deus do homem, assim como Deus é a mente de tudo; (...) A segunda oração, recitada no ano de 1700, contém que formemos o ânimo com as virtudes em consequência das verdades da mente, (...) E faz ver este universo [como] uma grande cidade, na qual com uma lei eterna Deus condena os estúpidos a fazer uma guerra contra si mesmo, (...) A terceira oração, recitada no ano de 1701, é como um apêndice prático das duas anteriores, sobre este argumento: deve separar-se da comunidade literária toda a fraude perversa, se deseja adorná-la com erudição genuína, e não falsa, sólida, e não vã. E demonstra que na república literária é preciso viver com justiça, e se condenam os críticos complacentes, que exigem com iniquidade os tributos deste erário, os obstinados das seitas, que impedem que se aumentem o erário, os impostores, que fraudam com suas contribuições o erário das letras (tradução nossa) [15].


A quarta Oração inaugural, apresentada em 1704 [16], sustenta que toda busca do conhecimento deve ter por principal meta o bem comum. Aqui o alvo de Giambattista Vico seriam aqueles falsos doutos que se dedicavam aos estudos visando unicamente os proveitos particulares. A quinta Oração vem a público no ano de 1705 [17], nela Vico expõe seus argumentos sobre a finalidade prática dos estudos, pois grandes foram os progressos dos Estados quando do investimento no conhecimento. Tais argumentos são justificados historicamente pelos sucessos dos grandes impérios da humanidade na obtenção de crescimento, quando dedicaram esforços na busca de conhecimento. Conforme a seguinte passagem:


A quarta oração, recitada no ano de 1704, propõe este argumento: Se alguém quiser adquirir as máximas vantagens dos estudos literários, e estiver sempre unida com a honestidade, tem de instruir-se na glória, no dizer e no bem comum. Ela é contra os falsos doutos que estudam apenas para a própria utilidade, (...) Na quinta oração, recitada no ano de 1705, se propõe: Os estados tiveram mais fama em proezas militares, e [foram] mais poderosos em seus domínios, quanto mais se desenvolveram nas letras. E se prova vigorosamente com boas razões, e depois se confirma com esta eterna sucessão de exemplos[18].


A sexta Oração inaugural, do ano de 1707 [19], foi uma das mais relevantes, pois Vico ampliou-a posteriormente, transformando-a em uma de suas obras mais importante: o De nostri temporis studiorum ratione, ou simplesmente, De ratione, publicada como livro em 1708. Em tal obra, o autor defende quais devem ser os objetivos dos estudos, bem como o melhor caminho que se deve percorrer para a obtenção de um bom aproveitamento. Ainda na mesma oração, podemos identificar a sua proposta de uma reforma do saber:


Na sexta oração, recitada no ano de 1707, trata este argumento misturado com a finalidade dos estudos e da ordem de estudar: O conhecimento da natureza corrupta dos homens convida e incita a colocar-se na corrente do conjunto de todas as artes liberais e das ciências, e propõe, e expõe uma reta ordem, fácil e perpétua para chegar a conhecê-las (tradução nossa) [20].


Vico explica ser o homem uma criatura tripartida em consequência do Pecado Original[21]. Tal tripartição seria: língua, modo particular de se expressar; raciocínio, também particular em razão das diversas opiniões conflitantes e pela diversidade dos apetites e, por último, o coração, representado pelos sentidos que, pela invariável semelhança dos vícios, torna os indivíduos concordes. Segundo ele, três coisas possibilitam unir os homens em um sentimento comum: virtude, ciência e eloquência. Aplicar-se aos estudos das línguas é preciso em razão de que essa disposição humana é responsável por nossa sociabilidade. Não obstante serem tão diversas e particulares em determinados povos, possibilitou-lhes manterem-se unidos aqueles que falavam a mesma língua [22]. Vico sustenta que pela linguagem deveriam se iniciar os estudos dos povos:


Aqui ele faz os ouvintes entrarem em uma meditação sobre si mesmo, que o homem, [sob] a pena do pecado, está separado do homem em língua, mente e coração: pela língua, que com frequência não socorre e frequentemente trai as ideias, pelas quais o homem queira e não pode unir-se ao homem; com a mente pela variedade das opiniões nascidas da diversidade dos gostos dos sentidos, nos quais o homem não concorda com outro homem; e finalmente com o coração, pelo qual, corrompido, também a uniformidade dos vícios não concilia o homem com o homem. Onde prova que a pena da nossa corrupção deva ser corrigida com a virtude, com a ciência, com a eloquência, por [estas] três coisas o homem unicamente sente o mesmo que outro homem. E isto, por aquilo que se atém aos fins dos estudos. No que diz respeito à ordem de estudar, prova que, assim como as línguas foram o mais potente meio de deter a sociedade humana, assim das línguas devem começar os estudos, porque todas elas se atém à memória, na qual vale admiravelmente a infância (tradução nossa) [23].


É sabido que o autor considerava a importância das línguas pelo fato de elas possuírem um estreito laço com a memória e fantasia: algo determinante para a capacidade cognitiva infantil. O autor costuma fazer comparações entre a mente dos primeiros pais da humanidade com a mente juvenil. Desse modo, pelas mesmas vias por onde conduziram-se os antigos, que foi mediante a História, seja ela verdadeira ou fantástica, assim também deveriam ser encaminhada as crianças e jovens nos processo educativo[24].
Giambattista Vico foi um autor comprometido com o seu tempo, com a vida político-social, com a religião e com a formação dos indivíduos, em particular, com indivíduos preocupados e empenhados em preservar esses elementos considerados de extrema importância para a manutenção da vida social. Eis o motivo de estar sempre reescrevendo suas obras, ou reelaborando suas ideias. Rebateu com veemência as críticas feitas às Letras como aquelas suscitadas pelos autores de orientação cartesiana. Buscou unir o que havia de melhor no pensamento filosófico com o acervo filológico. Construiu, conforme suas palavras, uma história das línguas e das coisas. Combinando e acertando o que de melhor havia sido produzido pelos homens das Letras, com o que foi refletido pelos homens das ideias[25].

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Outros autores

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[1] Cf. VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, p. 17.
[2] Sobre tais questões são pertinentes os estudos de Eugenio Garin. GARIN, Eugenio. Storia della filosofia italiana, Torino Einaudi,1966, II, pp. 920-937. Também Ernesto Grassi. Filosofia critica o filosofia topica: il dualismo di pathos e ragione, in <>, 1969, pp. 109-121. Ver também: MODICA, Giuseppe. La filosofia del <> in Giambattista Vico. Salvatore Sciascia Editore. Caltanissetta-Roma, 1983, p. 41.
[3] Cf. VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, p. 16.
[4] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere p. 15: Ad un medesimo tempo le opere filosofiche di Cicerone, di Aristotile e di Platone, tutte lavorate in ordine a ben regolare l’uomo nella civile società, fecero che egli nulla o assai poco si dilettasse della morale così degli stoici come degli epicurei, siccome quelle che entrambe sono una morale di solitari: degli epicurei, perché di sfaccendati chiusi ne’ loro orticelli, degli stoici, perché di meditanti che studiavano non sentir passione.”
[5] Cf. VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, pp. 6-7.
[6] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, p. 16: E a suo costo sperimentò che alle menti già dalla metafisica fatte universali non riesce agevole quello studio  propio degli ingegni minuti, e lasciò di seguitarlo, siccome quello che poneva in ceppi ed angustie la sua mente già avezza col molto studio di metafisica a spaziarsi nell’infinito de’ generi; e con la spessa lezione di oratori, di storici e di poeti dilettava l’ingegno di osservare tra lontanissime cose nodi che in qualche ragion comune le stringessero insieme, che sono i bei nastri dell’eloquenza che fanno dilettevoli l’acutezze”.
[7] Ibidem: “Talché con ragione gli antichi stimarono studio propio da applicarvisi i fanciulli quello della geometria e la giudicarono una logica propia di quella tenera età, che quanto apprende bene i particolari e sa fil filo disporgli,  tanto difficilmente comprende i generi delle cose; ed Aristotile medesimo, quantunque esso dal metodo usato dalla geometria avesse astratto l’arte sillogistica, pur vi conviene ove afferma che a’ fanciulli debbano insegnarsi le lingue, l’istorie e la geometria, come materie più propie da esercitarvi la memoria, la fantasia e l’ingegno. Quindi si può facilmente intendere con quanto guasto, con che coltura della gioventù, oggi da taluni nel metodo di studiare si usano due perniziosissime pratiche. La prima, che a fanciulli appena usciti dalla scuola della gramatica si apre la filosofia sulla logica che si dice <>, tutta ripiena di severissimi giudizi d’intorno a materie riposte di scienze superiori e tutte lontane dal comun senso volgare;” .
[8] O papel da primeira era criar (pois conforme já dizia o autor, nela reside o engenho) e da segunda refletir sobre o conhecimento produzido.
[9] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, p. 17: Ma, con tai logiche, i giovinetti, trasportati innanzi tempo alla critica, che è tanto dire portati a ben giudicare  innanzi di ben apprendere, contro il corso natural dell’idee, che prima apprendono, poi giudicano, finalmente ragionano, ne diviene la gioventù  arida e secca nello spiegarsi e, senza far mai nulla, vuol giudicar d’ogni cosa. Al contrario, se eglino nell’età dell’ingegno, che è la giovanezza, s’impiegassero nella topica, che è l’arte di ritrovare, che è sol privilegio dell’ingegnosi (come il Vico, fatto accorto da Cicerone, vi s’impiegò nella sua), essi apparecchierebbero la materia per poi ben giudicare, poiché non si giudica bene se non si è conosciuto il tutto della cosa, e la topica è l’arte in ciascheduna cosa di ritrovare tutto quanto in quella è; e sì anderebbono dalla natura stessa i giovani a formarsi e filosofi e ben parlanti”.
[10] Cf. VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, p. 44.
[11] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, pp. 29-30: Fino a questi tempi il Vico ammirava due soli sopra tutti gli altri dotti, che furono Platone e Tacito; perché con una mente metafisica incomparabile Tacito contempla l’uomo qual è, Platone qual dee essere; e come Platone con quella scienza universale si diffonde in tutte le parti dell’onestà che compiono l’uom sapiente d’idea, così Tacito discende a tutti i consigli dell’utilità, perché tra gl’infiniti irregolari eventi della malizia e della fortuna si conduca a bene l’uom sapiente di pratica. (...) Quando finalmente venne a lui in notizia Francesco Bacone  signor di Verulamio, uomo ugualmente d’incomparabile sapienza e volgare e riposta, siccome quello che fu insieme insieme un uomo universale in dottrina ed in pratica, come raro filosofo e gran ministro di stato dell’Inghilterra. E, lasciando da parte stare gli altri suoi libri, nelle cui materie ebbe forse pari e migliori, in quelli De augumentis scientiarum l’apprese tanto che, come Platone è il principe del sapere de’ greci e un Tacito non hanno i greci, così un Bacone manca ed a’ latini ed a’ greci; che un sol uom vedesse quanto vi manchi nel mondo delle lettere che si dovrebbe ritruovare e promuovere, (...) di quanti e quali difetti sia egli necessario emendarsi; (...) E, propostisi il Vico questi tre singolari auttori da sempre avergli avanti gli occhi nel meditare e nello scrivere, cosí andò dirozzando i suoi lavori d’ingegno, (...)”. Ver também a página 44.
[12] Segundo Vico, as sociedades se degeneravam quando os pensadores, semelhantes aos cartesianos, esqueciam de como se comunicar, ou como os retóricos de orientação manierista, que procuravam tão-somente brincar com a linguagem, buscavam apenas ser astutos e não verdadeiros.
[13] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, pp. 30-31: Imperciocché egli nelle sue orazioni fatte nell’aperture degli studi nella regia università usò sempre la pratica di proporre universali argomenti, scesi dalla metafisica in uso della civile; e con questo aspetto trattò o de’ fini degli studi, come nelle prime sei, o del metodo di studiare, come nella seconda parte della sesta e nell’intiera settima. Le prime tre trattano principalmente de’ fini convenevoli alla natura umana, le due altre principalmente de’ fini politici, la sesta del fine cristiano”.
[14] De acordo com os estudos de Fausto Nicolini, esta oração teria sido recitada verdadeiramente no ano de 1702. Cf. Giambattista Vico Opere, Comento e note, p. 1273 à nota 7.
[15] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, p. 31-32: La prima, recitata li diciotto di ottobre 1699, propone che coltiviamo la forza della nostra mente divina in tutte le sue facoltà, (...) E pruova la mente umana in via di proporzione esser il dio dell’uomo, come Iddio è la mente del tutto; (...) La seconda orazione, recitata l’anno 1700, contiene che informiamo l’animo delle virtù in conseguenza delle verità della mente, (...) E fa vedere questo universo una gran città, nella quale con una legge eterna Iddio condanna gli stolti a fare una guerra contro di se medesimi, (...) L’orazion terza, recitata l’anno 1701, è una come appendice pratica delle due innanzi, sopra questo argomento:  A litteraria societate omnem malam fraudem abesse oportere, si vos vera non simulata, solida non vana, eruditione ornari studeatis.  E dimostra che nella repubblica letteraria bisogna vivere con giustizia, e si condannano i critici a compiacenza, che esiggono con iniquità i tributi di questo erario, gli ostinati delle sètte, che impediscono accrescersi l’erario, gl’impostori, che fraudano le loro contribuzioni all’erario delle lettere.”
[16] A data desta oração, também não é exata. Conforme Nicolini, ela foi recitada no ano anterior 1703. Entretanto, outro estudioso S. Monti argumenta que ela foi proferida em 1705, em razão do biênio de silêncio entre os anos de 1703 1705 devido ao concurso universitário, por tal motivo não teria acontecido neste período às ditas Orações Inaugurais que abriam o ano acadêmico. (Cf. VICO, Giambattista. Opere. Andrea Battistini, Comento e note, p. 1274 à nota 10.).
[17] De acordo com as pesquisas de S. Monti, esta oração foi recitada no ano de 1706. (Cf. Giambattista Vico. Opere. Comento e note, p. 1274 à nota 7.).
[18] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, pp. 32-34: “La quarta orazione, recitata l’anno 1704, propone questo argomento: Si quis ex litterarum studiis maximas utilitates easque semper cum honestate coniunctas percipere velit, is gloriae sive communi bono erudiatur. Ella è contra i falsi dotti che studiano per la sola utilità, (...) Nella quinta orazione, recitata l’anno 1705, proponsi: Respublicas tum maxime belli gloria inclytas et rerum imperio potentes, quum maxime litteris floruerunt. E si pruova vigorosamente con buone ragioni, e poi si conferma con questa perpetua successione di esempli”.
[19] De acordo com Fausto Nicolini esta oração foi recitada em verdade no ano de 1706, no entanto os estudos de S. Monti apontam que esta data está correta. (Cf. Giambattista Vico. Opere. Comento e note, p. 1276 à nota 8.).
[20] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, pp. 34: “Nella orazion sesta, recitata l’anno 1707, tratta quest’argomento mescolato di fine degli studi e di ordine di studiare: Corruptae hominum naturae cognitio ad universum ingenuarum artium scientiarumque absolvendum orbem invitat incitatque, ac rectum, facilem ac perpetuum in iis perdiscendis ordinem proponit exponitque.”
[21] Sobre este tema são relevantes as considerações de Francesco Botturi: “A condição histórica da queda é vivida por este motivo necessariamente no engano das ‘falsas religiões’ e em certo sentido, na indefinida reiteração do pecado da ‘curiosidade’ original: as formas idolátricas e divinatórias são, de fato, o prosseguimento – a intitucionalização, se pode dizer – do pecado original”. [La condizione storica decaduta è vissuta perciò necessariamente nell’inganno delle “false religioni” e in un certo senso nella indefinita reiterazione del peccato della “curiosità” originale: le forme idolatriche e divinatorie sono infatti la prosecuzione – la istituzionalizzazione, si potrebbe dire - del peccato originale]; (BOTTURI, Francesco. (2003). Caduta e storia: note sulpeccato originale” in G. B. Vico. Memorandum, 5, 18-35. Retirado em 12/11 2010/, do World Wide Web:
 http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos05/botturi01.htm.).
[22] O autor tinha a ideia de construir uma espécie de dicionário mental, comum a todos os povos.
[23] VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, pp. 34-35: Qui egli fa entrar gli uditori in una meditazion di se medesimi, che l’uomo in pena del peccato è diviso dall’uomo con la lingua, con la mente e col cuore: con la lingua, che spesso non soccorre e spesso tradisce l’idee per le quali l’uomo vorrebbe e non può unirsi con l’uomo; con la mente, per la varietà delle opinioni nate dalla diversità de’ gusti de’ sensi, ne’ quali uom non conviene con altr’uomo; e finalmente col cuore, per lo quale, corrotto, nemmeno l’uniformità de’ vizi concilia l’uomo con l’uomo. Onde pruova che la pena della nostra corruzione si debba emendare con la virtù, con la scienza, con l’eloquenza, per le quali tre cose unicamente l’uomo sente lo stesso che altr’uomo. E ciò, per quello s’attiene al fine degli studi. Per quello riguarda l’ordine di studiare, pruova che, siccome le lingue furono il più potente mezzo di fermare l’umana società, così dalle lingue deono inco-minciarsi gli studi, poiché elle tutte s’attengono alla memoria, nella quale vale mirabilmente la fanciullezza”.
[24] Cf. VICO, Giambattista. Vita Scritta da se medesimo, in: Opere, p. 35.
[25] Ibidem, p. 45.

Marcos Aurélio da Guerra Dantas (UECE) – marteguerra@hotmail.com

domingo, 29 de abril de 2018

Um estudo dos conteúdos histórico-políticos da Scienza Nuova de 1744 de Giambattista Vico (I parte)



Giambattista Vico em sua obra Scienza Nuova de 1744, ao escrever sobre a gênese das nações deixa transparecer os conteúdos quer históricos, quer políticos que estão contidos em sua obra. Seu método constitui-se de uma análise tanto filológica quanto filosófica, tal método, conforme ele argumenta encontra-se embasado nos conceitos de ciência elaborados por Aristóteles e Francis Bacon. O primeiro por que afirmou que os objetos das ciências devem ser as coisas universais e eternas; o segundo, por seu método filosófico que parte das coisas naturais e transporta-as para “as coisas humanas civis”, conforme ele propõe na sua obra Cogitata et visa de interpretatione naturae, sive de inventione rerum et operum de 1609 [1].
O problema na elaboração deste trabalho deveu-se, sobretudo não à carência de conteúdos relacionados aos temas propostos, mas ao contrário ao excesso. Tive muita dificuldade em separar ambos os objetos da pesquisa, bem como os argumentos mais importantes e interessantes com os quais o autor expõe suas ideias. Vico à medida que descreve as origens das organizações políticas descreve História, de semelhante modo quando descreve as fábulas mitológicas e os fatos históricos descreve a Política.
Logo no início, na Ideia da Obra, o autor descreve pelo mito de Hércules, as figuras dos primeiros heróis desbravadores. Aqueles heróis que queimaram as florestas e estabeleceram as primeiras comunidades políticas. Por tal motivo a figura de Hércules é descrita ou denominada como um “caráter dos heróis políticos”, conforme vemos nesta passagem:

Na faixa do zodíaco que cinge o globo terrestre, mais do que os outros, comparecem em majestade (...) apenas dois signos do Leão e da Virgem, para significar que esta Ciência, nos seus princípios, contempla primeiramente Hércules (...) que se comprova ter sido o carácter dos heróis políticos que devem ter vindo antes dos heróis das guerras, pegou fogo e transformou em cultivado [2].

 New Science
              Ideia da Obra. Frontispício da Scienza Nuova


A contagem dos tempos entre os gregos se inicia com o cultivo dos campos. A figura da “Virgem” coroada de espigas simbolicamente significa que a história grega começa na “Idade do Ouro” narrada pelos poetas, e tal ouro em verdade era o trigo, que de acordo com Vico, teria sido “o primeiro ouro do mundo”. De modo semelhante, a contagem dos tempos entre os povos do Lácio esteve ligada à contagem das messes, ou seja, das colheitas. Tais povos denominaram esta primeira idade como sendo a “Idade de Saturno”. O Saturno dos latinos era figura idêntica a Cronos*, divindade grega associada ao tempo. A ciência da Cronologia relacionava-se “à doutrina dos tempos” [3].
Vico ao descrever seu método de estudo, que tem por base a análise filológico-filosófico amparando-se também na proposta de uma “nova arte crítica”, ele busca a verdade sobre os fundadores das nações e diz que decorreram cerca de mil anos até que surgisse m os escritores. O propósito de sua Ciência é fazer uma análise dos costumes, dos fatos, da linguagem e tudo o mais que esteja relacionado ao fazer humano. Seu estudo possibilita a descoberta de uma “história ideal eterna”, na qual transcorre a história de todas as nações[4].
O estudo das fábulas do período heroico possibilita o conhecimento de uma cronologia da história poética dos deuses. Tais fábulas revelam tanto a história de seus heróis quanto de seus costumes e que estes foram comuns a todos os homens no seu estado de barbárie. Eis o motivo de o autor considerar as obras de Homero, a Ilíada e a Odisséia como sendo “dois grandes tesouros” que nos possibilitavam conhecer questões relativas quer aos costumes, quer ao direito natural dos povos na sua barbárie. Conforme vemos neste trecho:

Essa teogonia natural, ou seja, geração dos deuses, produzida naturalmente nas mentes dos homens primitivos, dá-nos uma cronologia refletida da história poética dos deuses. As fábulas heroicas foram histórias verdadeiras dos heróis e dos seus heroicos costumes, que se verifica terem florescido em todas as nações no tempo da sua barbárie; pelo que se comprova serem os dois poemas de Homero dois grandes tesouros para a descoberta do direito natural das gentes gregas ainda bárbaras [5].

O estilo homérico foi mantido por Heródoto, tido como o pai da História. Em sua obra é possível perceber o grande uso das fábulas, e tal uso permaneceu durante certo tempo entre os historiadores que adviriam, utilizando expressões que meneavam entre estilo poético e o vulgar. Será com Tucídides que a História ganha certo rigor quanto à veracidade dos fatos narrados, conforme vemos nesta passagem:

(...) Heródoto, chamado o pai da história grega, e cujos livros estão repletos, na sua maior parte, de fábulas, e o estilo retém muitíssimo do homérico; em cuja propriedade se conservaram todos os historiadores que depois vieram, que usam uma expressão intermédia entre a poética e a vulgar. Mas Tucídides, o primeiro historiador rigoroso e sério da Grécia, no princípio dos seus relatos, declara que, até o tempo de seu pai (que era o tempo de Heródoto, que era velho quando tucídides era criança), os Gregos, de facto, nada sabiam, não apenas das antiquidades estrangeiras (...), mas das suas próprias [6];

Representado no Frontispício da Obra a figura do lítuo, ou seja, o bastão ou cajado, instrumento utilizado pelos primeiros adivinhos. É a partir da arte divinatória que começam a descobrir ou acreditar nas coisas divinas. Os hebreus pelo atributo da providência deles acreditavam ser Deus uma “Mente infinita” e que observa todos os tempos a partir de um ponto da eternidade; quando Deus atuava, ou seja, dizia o que havia de porvir, Ele o fazia por meio de anjos, porque eles são mente, ou por meio dos profetas que advertiam o povo. Os gentios tinham uma arte divinatória de procurar na própria natureza. Ora tal natureza dizia-se encontrar repleta de deuses. Tais deuses deixariam signos, e só os adivinhos reconheciam estes signos. Nestes os deuses nos aconselhavam quais decisões tomar, principalmente quando era de interesse comum[7]. O lítuo, segundo Vico é um símbolo de que a partir da arte divinatória tem início a história universal gentílica, que por meio de suas provas “físicas e filológicas” demonstram que a história universal dos gentios tem início com o “dilúvio universal”. De acordo com esta passagem:


Sobre o altar, do lado direito, o primeiro a aparecer é um lítuo, ou seja, a vara com a qual os augures tomavam os augúrios e observavam os auspícios; o qual pretende dar a entender a adivinhação, a partir da qual o começaram as primeiras coisas divinas para todos os gentios (...) foi dado universalmente por todo o gênero humano à natureza de deus o nome de <>, a partir de uma mesma idéia, à qual os latinos chamaram <>, <> (...) Portanto, de uma só vez, com esse dito lítuo, se assinala o princípio da história universal gentílica que, com provas físicas e filológicas, se demonstra ter tido o seu começo no dilúvio universal [8].


A figura da urna cinerária no frontispício da obra demonstra a organização política dos primeiros pais da humanidade. Ela representa, conforme o autor, a divisão dos campos e a distinção das cidades e dos povos. Ora os gentios, após um período pós-diluviano vivendo como animais, vão aos poucos se estabelecendo com algumas mulheres e “abaladas e despertas” essas gentes criam e acreditam que uma divindade os observa. Temerosos com a violência das tempestades, que acreditam ser a manifestação de tal divindade, estas gentes iniciam um refreamento dos instintos e cuidam de tornar-se piedosos. A crença de uma divindade faculta-lhes o estabelecimento de dois outros princípios de humanidade: os casamentos e os sepultamentos. Com o casamento surgem as famílias e com os sepultamentos a posse do território que por longo tempo haviam ocupado, pois que nestes territórios estavam as tumbas dos seus antepassados delimitando assim os costumes e os territórios de cada povo distintamente. Conforme vemos neste trecho:


Essa urna assinala, além disso, a origem, entre os mesmos gentios, da divisão dos campos, na qual se devem procurar encontrar as origens da distinção das cidades e dos povos e, por fim, das nações (...) e, assim dispersas, para procurar pasto e água e, por tudo isto, ao fim de longo tempo, tendo chegado a um estado de animalidade, em certas ocasiões ordenadas pela providência divina (que por esta Ciência se meditam e se descobrem), abaladas e despertas por um terrível pavor de uma divindade do Céu e de Júpiter por elas próprias inventadas e crida, finalmente, uns tantos detiveram-se e esconderam-se em certos lugares; onde, estabelecidos com certas mulheres (...) celebraram os matrimônios e fizeram filhos certos, e assim fundaram as famílias [9].


Com o estabelecimento dessas famílias junto às sepulturas dos seus pais confirmaram existir entre eles os fundadores das primeiras comunidades e entre eles surgiu a divisão dos campos. Esses primeiros pais eram denominados de “gigantes”. O que de acordo com Vico, tal termo em grego significa <>, o mesmo também significaria “descendentes dos sepultados”. Estes primeiros pais consideravam-se “nobres” porque pensavam com justiça (como sendo justo) o modo como eles haviam sido gerados, ou seja, gerados humanamente sob o temor de uma divindade [10].
Os primeiros que foram gerados dentro dos casamentos certos, ou seja, que foram humanamente gerados, foram denominados “geração humana” e das diversas famílias que desta geração ramificaram-se e desses descendentes vieram a se formar o que o autor denomina de “as primeiras gentes”. È a partir destas primeiras gentes têm início o que Vico chama de “doutrina do direito natural das gentes”. É com razões tanto físicas quanto morais, que vão além das histórias, que se comprova que estes primeiros pais eram, tanto em força, quanto em estatura gigantes [11] no sentido atual do termo.
A história dos povos antigos pode ser desvelada a partir da história dos povos romanos e mais ainda, dos povos da Grécia. Quanto às denominações dos lugares e regiões do mundo, todos em sua grande maioria receberam seus nomes, a partir de lugares e regiões que a princípio estavam na própria Grécia. Só depois que os gregos partem pelo mundo, eles denominam os novos lugares de acordo com a semelhança com sua terra de origem. Estas descobertas são tidas como “os outros princípios da geografia”, que juntamente com a cronologia são os “olhos da História”. Estas duas ciências, conforme o autor são necessários para a leitura da “história ideal eterna”. Conforme esta passagem:


E, porque se comprova terem sido estes altares os primeiros abrigos do mundo (que Tito Lívio geralmente define <>, como nos é narrado ter Rómulo fundado Roma dentro do abrigo aberto no bosque), (...) A esta descoberta menor junta-se esta maior: que, entre os Gregos (...), a primeira Trácia ou Cítia (ou seja, o primeiro Setentrião), a primeira Ásia e a primeira Índia (ou seja, o primeiro oriente), a primeira Mauritânia ou Líbia ( ou seja, o primeiro Meio-Dia) e a primeira Europa ou primeira Hespéria (ou seja, o primeiro Ocidente) e, com estas, o primeiro Oceano, todas nasceram dentro dessa Grécia; e que depois, os gregos, que partiram pelo mundo, pela semelhança dos lugares deram estes referidos nomes às quatro partes do mundo e ao oceano que o cinge [12];



Segundo Vico, os primeiros “ímpios-vagabundos-débeis” procuravam refúgio nestas primeiras cidades, para lá acorriam fugindo da perseguição dos gigantes mais furiosos e selvagens. Os gigantes já estabelecidos delimitavam seus territórios e acolhiam os mais fracos e subjugava ou matava aqueles ditos violentos e cruéis. Os acolhidos eram encarregados de produzir às suas expensas o próprio sustento, bem como o de seus salvadores. Estes acolhidos tornavam-se escravos que após algum tempo foram também capturados nas guerras. Estas a princípio originaram-se pela “defesa própria”, pois conforme o autor, esta é a legítima virtude da fortaleza [13].
Esta análise proporciona a descoberta de um desenho da “planta eterna das repúblicas”. Nesta planta pode se perceber que os Estados mesmo que conquistados por meio da força e da fraude precisam se estabelecer para que durem. Ao contrário, aqueles Estados conquistados por meio de ações virtuosas tendem após certo tempo a se degenerarem também pela força e pela fraude. Esta planta das repúblicas encontra-se embasada em dois “princípios eternos” do mundo das nações, ou seja, a mente e o corpo dos indivíduos, que pertencem a este mundo das nações. Aqui é impossível não notar a influência de Platão. Assim como se compõe o homem devem compor-se as nações, ou seja, que aqueles que usam a mente, que são os nobres comandem, e aqueles que usam o corpo, os plebeus e compõem a parte vil devem obedecer. Conforme concluímos com esta passagem:


E em todas estas origens se descobre desenhada a planta eterna das repúblicas, sobre a qual os Estados se bem que conquistados com violência e com fraude, se devem estabelecer para durarem; como pelo contrário, os conquistados com estas origens virtuosas, depois se arruínam com a fraude e com a força (...) Pelo que – sendo os homens compostos por estas duas partes, das quais uma é nobre e como tal, deveria comandar, e a outra vil, a qual deveria servir [14].


[1] VICO, Giambattista. Ciência Nova, p.119.
[2] Ibidem, pp. 4-5.
[3] Cf. VICO, Giambattista. Ciência Nova, pp. 5-6.
[4] Ibidem, pp. 8-9.
[5] Ibidem, p. 10.
[6] Cf. VICO, Giambattista. Ciência Nova, p. 4.
[7] Ibidem, p. 9.
[8] Ibidem, pp. 11-12.
[9] Cf. VICO, Giambattista. Ciência Nova, p. 14.
[10] Ibidem, pp. 14-15.
[11] Ibidem, p. 15.
[12] Cf. VICO, Giambattista. Ciência Nova, pp. 19-20.
[13] Ibidem, p. 20.
[14] Cf. VICO, Giambattista. Ciência Nova, p. 21.

Imagem: https://felipepimenta.com/2013/12/12/resenha-ciencia-nova-de-giambattista-vico/em 29/04/2018.