terça-feira, 7 de junho de 2011

Educação Política: uma condição necessária para a participação juvenil

Educação Política: uma condição necessária para a participação juvenil


Introdução

A pauta "política" é um assunto comum na nossa sociedade, principalmente em vésperas de eleição, pois aparece com mais força no nosso cotidiano, seja na mídia, em rodinhas de conversas entre amigos, na escola, na universidade ou mesmo em nossa casa.
A questão da política não é fácil de ser discutida  nos dias de hoje. Estamos carregados de desconfianças, descréditos em relação aos homens que estão ou que chegam ao poder diante de tanta corrupção, falta  de ética e compromisso com a sociedade. Dessa forma, a política, na maioria das vezes, é vista de modo pejorativo, vulgar. Assim, as pessoas tendem a entender  que quem faz política são só o político profissional, e não todos os cidadãos.
O período de eleições é imprescindível no processo democrático e esse acontecimento meche como todo o povo brasileiro. Caso peculiar, aconteceu em Santo Antonio de Leverger, cidade onde resido. A cidade vive em instabilidade política desde o ano de 2008 , véspera de eleições para gestor municipal (prefeito) em que o prefeito e candidato a reeleição  foi denunciado pelo MCCE- Movimento de Combate a  Corrupção  Política,  por vários atos considerados ilícitos. Em meio a tantas denuncias, de corrupção, desvios de recursos públicos, nepotismo, superfaturamento,a representação política local tomou outros rumos.
Mesmo sendo reeleito com 51% dos votos, este foi cassado  e afastado do seu cargo e em seu lugar, o presidente da câmara muncipial emposou está o presidente da câmara Municipal.
As eleições suplementares foram marcada, e em outubro de 2010  concorreram ao cargo de gestor municipal, o então ‘'prefeito'' (presidente da câmara e irmão do prefeito que teve sua candidatura cassada) e a outra candidata que concorrera a eleição em 2008. O Atual prefeito foi eleito, contudo foi barrado pela lei Ficha Limpa. Sendo assim, o  presidente da câmara municipal de santo Antonio de Leverger foi diplomado no dia 01 de Janeiro de 2010.
Diante da instabilidade política na cidade, e considerando que os jovens são o futuro do país, e que estes tem um papel importante na sociedade, para lhe dar novos rumos compreendermos ser um importante pensar sobre na participação dos jovens na política seja local, regional e nacional. Assim,  pretendemos propor uma reflexão sobre o que é  política embasada em diversos autores, a fim de problematizar a importância da educação política dos jovens, a sua participação nesse processo,  para que estes possam ter uma postura critica frente aos acontecimentos e ter clareza do que de fato significa política, que esta vai além do simplesmente ato de votar.

Juventude e política

O Termo adolescência é empregado para designar o período de variação entre o ser criança e o adulto. A UNESCO indica que adolescência é o período que começa aos 15 anos de idade e vai até os 24 anos. Já o Estatuto da Criança  e do Adolescente (ECA) afirma que a pessoa entre doze e dezoito anos de idade é considerado adolescente. (ECA, 2005, p.15)
‘'A juventude é um fator importante para o desenvolvimento dos cenários sociais".  Segundo Schwartz  esta apresenta  variações  que irão  depender da situação, da convivência social,  da cultura ( entre outros) que definirão o perfil do adolescente.            ( SCHWARTZ apud Baqueiro,2006, p. 27)
 Para Bourdieu  o conceito de juventude é construído socialmente, não se podendo falar do jovem como se ele fosse uma unidade social, um grupo constituído com interesses comuns. ( BORDIEU apud Baqueiro, 2006, p.27 )

La juventud no es una categoría homogénea, estática ni invisible, es un sector poblacional de una gran diversidad, con múltiples identidades, donde entra en juego tanto lo material como lo simbólico, así como también lo cultural, lo socioeconómico, la dimensión de género, lo político, lo étnico y lo religioso, que se conjugan permanentemente. (GRANADA  apud  Baqueiro, 2006 , p. 27)

A participação dos jovens na sociedade depende muito da visão  política que estes tem frente as  relações sociais, como se veem na sociedade, como veem os representantes políticos.
Para compreendermos melhor o que é a política e suas facetas faz-se necessário fazer uma a reflexão sobre a concepção do Estado, da sociedade civil, visto que a ‘'política é a teoria do Estado'' (ABAGGNANO, 1998, p.787), que permeia ação dos homens em sociedade.
Tudo que existe na sociedade é construído historicamente pela ação do homem. Sendo assim, o Estado, a sociedade civil, as instituições (igreja, escola, família, partidos, etc.), a ideologia, a cultura, a política, os partidos políticos são frutos da ação do homem nas suas relações sociais.
A concepção sobre o Estado, sociedade civil foi interpretada por diferentes teóricos da ciência política, tais como Locke, Hobbes Maquiavel, Marx  e Gramsci.
Para os jusnaturalista, a sociedade civil está na origem do Estado. Locke, o Estado/ Sociedade Civil (Política) surge de um contrato feito pelos homens afim de seus direitos naturais (a propriedade privada, a liberdade, a vida) sejam garantidos. Dessa forma ‘'o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam no estado de natureza. '' (MELLO, 189, p. 86). A principal finalidade do Estado seria garantir a propriedade privada.
Hobbes, também, afirmar que a origem do Estado e/ou da Sociedade civil está num contrato social feito entre os homens, entretanto,  sua visão sobre este pacto é diferente, pois em Hobbes, ‘'os homens firmam um pacto de submissão, pelo qual, visando a preservação de suas vidas, transferem a um terceiro a força coercitiva da comunidade, trocando sua liberdade pela segurança do Estado-Leviatã. ‘' (MELLO, 1989, p. 86).
Segundo Hobbes, os homens no estado de natureza estão em guerra de todos contra todos'', por isso é preciso um Estado que controle e reprima aquilo que ele considera mais racional no Estado de Natureza: a guerra entre os homens.
Maquiavel por sua vez, considera o Estado  como uma organização,  em que o governante ( o príncipe ) deve fazer de tudo que for  possível para manter o poder. Isto é, Maquiavel seculariza o Estado, e opõe-se da idéia de Estado bom, perfeito e mostra que o Estado é mundano, que a bondade não existe nessa esfera política. (SADEK, 1989,p.15)
Para Kelsen, o Estado  "é uma sociedade politicamente organizada porque é uma comunidade constituída por uma ordenação coercitiva, e essa ordenação coercitiva é o direito" ( ABBAGNANO,  1998, p.374)
É, entretanto,  em Marx que o Estado perde sua áurea de superioridade entre os homens. Marx definiu o Estado como ‘'comitê executivo da burguesia'',  isto é, o Estado é um aparelho que representa os interesses da classe dominante. Dessa forma,  a gênese do Estado reside, portanto na divisão da sociedade em classes, sendo sua principal função conservar e reproduzir esta divisão, garantindo os interesses da classe que domina as outras classes. Para Marx, a Sociedade civil representa a estrutura, a base, "o teatro de toda história", sobre a qual se ergue uma superestrutura política e jurídica.    ( COUTINHO, 1997, p. 160 )
Gramsci elabora uma visão mais complexa e amplia a visão marxiana do Estado e sociedade civil. Dessa forma, o Estado é ampliado, em que  faz parte tanto  a sociedade política ( Estado em sentido restrito) quanto a  sociedade civil (conjunto de organizações da sociedade) , isto é , ‘'o Estado assumiu novas características, na medida que se viu obrigado, pela pressão das lutas do trabalhadores , a incorporar novos direitos de cidadania política e social''. ( COUTINHO, 1997, p.161)

Para  Gramsci, o Estado é força e consenso. Ou seja, apesar de estar a serviço de umas classes dominante ele não se mantém apenas pela força e pela coerção legal; sua dominação é bem mais sutil e eficaz. Através de diversos meios e sistemas, inclusive e principalmente, através de entidades que aparentemente estão fora da estrutura estatal coercitiva, o Estado se mantém e se reproduz como instrumento de uma classe, também construindo o consenso no seio da sociedade. ( GRAMSCI apud Regô, 1991)

Nesse sentido a sociedade civil se ‘'associa'' ao Estado, ou seja, uma socialização política, com um número cada vez maior de pessoas que passou a fazer política, " não só através da progressiva ampliação do direito ao voto, mas também por meio de ingresso e da militância de amplos segmentos da população nas múltiplas organizações ( sindicatos, partidos, movimentos, etc.)". (COUTINHO,1997,  p. 162)
Nota-se que a política não "se separa do Estado", e que esta passa por inúmeras mudanças desde os gregos até os dias atuais.  Mas o que de fato é política? Será que realmente as pessoas sabem seu verdadeiro sentido? O termo política é empregado de várias maneiras e às vezes é confundida com os atos dos políticos profissionais. Mas, qual será a verdadeira essência da política?
A política é um artifício humano. Segundo Maquiavel, a política é resultado das forças provenientes das ações concretas dos homens em sociedade, sendo a ordem , um produto necessário da Política, para evitar o caos e a barbárie. O poder político, segundo este, tem uma origem mundana, nasce da própria malignidade do homem. (RIBEIRO, 1989, p.20)
Para Maquiavel, a política era uma única coisa: conquistar e manter o poder ou a autoridade.  Assim, o" político bem sucedido" sabe o que fazer ou o que dizer em cada situação. Essa concepção  "maquiavélica" é emprega de forma negativa e natural, mesmo nos dias atuais. Contudo, a política, no seu sentido genérico, não tem nada a ver com essa concepção trazida por Maquiavel, embora que ele seja bem realista, ao tratar da conduta humana para conquistar o poder.
A política para Marx, "é concebida como sendo a atividade pratica através da qual os indivíduos tentam superar os antagonismos da sociedade civil a fim de formarem uma comunidade orgânica de interesses harmoniosos fundada na razão". (MARX apud Furtado)
Portanto, a Sociedade é composta por duas classes antagônicas, no qual quem tem o pleno domínio é a burguesia, escravizando a classe proletária. Marx afirma, que ‘'a chamada emancipação humana'', isto é a cidadania plena, só será possível num outro tipo de organização: o socialismo.  (COUTINHO,1997, p.159)
Para a filósofa alemã,  Hannah Arendt, o sentido da política é a liberdade. Segundo ela, a idéia de política e de coisa pública surge pela primeira vez na polis grega considerada o berço da democracia.  E a política baseia-se na pluralidade dos homens para organizar  o convívio entre os diferentes. (ARENDT, 1993, p.7)
Para Hannah arendt a política não se define exclusivamente ao Estado, pois segundo ela o Estado não é o mais o local de uma racionalidade capaz de garantir um sentido de justiça e moralidade do mundo. Ela frisa também os preconceitos que temos em relação à política por não sermos políticos profissionais, e isso de certa forma nos desmotiva, nos deixa sem esperanças. (ARENDT, 1993, p. 9 - 11)
No uso trivial , vago e as vezes  um tanto pejorativo, política, como substantivo ou adjetivo, compreende as ações, comportamentos, intuitos, manobras, entendimentos e desentendimentos dos homens  ( os políticos) para conquistar o poder, ou uma parcela dele, ou um lugar nele: eleições , campanhas eleitorais,comícios, lutas de partidos, etc.
Partindo desses pressupostos, podemos constatar que a política, rege as relações entre os homens e que se tem varias concepções, como "arte e ciência de governo" (Platão apud Abbagnano, 1998), ciência do poder, etc. Wolff definia a Política  como "a ciência de dirigir as ações livres na sociedade civil ou no Estado" (ABBAGNANO, 1998, p.788).
  Sendo assim, é  preciso delimitar que a política não só faz parte da esfera do Estado, como afirmou Arendt, mas faz parte do nosso cotidiano, na vida em sociedade, participando das decisões nos espaços públicos, escolhendo os representantes políticos, através do voto, organizando-se em movimentos, sindicatos partidos, etc.

Representações políticas: instrumentos de corrupção?

É sempre importante frisar que a democracia é fundamentada no princípio de participação dos cidadãos a partir da escolha de representantes políticos.  A palavra democracia significa governo do povo, isto é "o povo (demos) exerce o seu poder elegendo quem irá governá-lo" (SARTORI, 2001, p. 109).
Coutinho define a democracia como sinônimo de soberania popular, ou seja, "podemos defini-la como presença efetiva das condições sociais e institucionais que possibilitem ao conjunto de cidadãos a participação ativa na formação do governo e conseqüentemente, no controle da vida social". ( COUTINHO, 1997, p.145)
Os representantes políticos por sua vez, "se encarregam de tomar as decisões que dizem respeito aos interesses coletivos ou públicos da sociedade, conformando o que chamamos de governo representativo." (CACIAN, 2008, p.3)
Estes representantes políticos são organizados em partidos políticos. O partido político, segundo Bispo Sobrinho, é a organização de parte ou parcela do povo, segundo os mesmos ideais políticos, com objetivo de desenvolver uma ação comum voltada ao exercício dos negócios do Governo. O surgimento e a posterior evolução dos partidos políticos estão relacionados ao desenvolvimento do sistema democrático político e à conquista - e conseqüente extensão - dos direito´s politicos (direito de eleger e de ser eleito) .
 Historicamente, os partidos políticos começaram a surgir na Inglaterra, no século XVI, como centros de polarização de forças, e só no século XVII se definem precisamente.Surgiram estes decorrentes da busca de modo de aprimoramento da democracia representativa, principalmente de aumentar o grau de democracia no sistema. Com esse objetivo, surgiu associado a Hans Kelsen, um modelo que, em tese, acentuaria a influência dos eleitores sobre o governo. Ela daria a estes não só a escolha dos governantes, mas igualmente das linhas mestras que poriam em prática. Trata-se da "democracia pelos partidos".
Os partidos políticos, porém, não foram criados no mesmo momento em que surgiu o  governo representativo. Nos primórdios dos processos eleitorais, apenas uma pequena parcela de cidadãos tinha o direito de eleger representantes. E as eleições, de modo geral, se limitavam à escolha de representantes para os parlamentos ou câmaras legislativas.
  Uma  das  funções do partido político, dentro da democracia representativa, é "organizar e fiscalizar o processo eleitoral, e mostrar ao eleitorado as opções políticas possíveis a fim de realizá-las. Contudo essas funções muitas vezes não são cumpridas e o que se vê são artimanhas para conquistar o poder. E esse é um aspecto negativo, visto que os partidos políticos buscam somente os interesses particulares e este conseqüentemente entram em conflito com o interesse geral (da população), e assim  são visto como instrumentos de corrupção.

 Participação : uma condição necessária para democratização da sociedade

A participação dos sujeitos nos espaços públicos é essencial para democratizar verdadeiramente a sociedade. "Para Rousseau, a democracia é constituída de três aspectos: a igualdade de participação; o político como espaço autônomo de agir humano, por considerar o interesse publico como valor Maximo da sociedade; a participação direta no poder." (CAMPOS, 2006, p.105)
Porém, esse processo não foi dado de imediato, mas  conquistado ao longo da história, através das lutas da classe trabalhadora  para a universalização dos direitos sociais e políticos. No Brasil , essa foi uma conquista,  a partir da constituição Federal de 1998, em que todos tem direito ao voto ( inclusive os analfabetos),  de escolher seus representantes, portanto, de participar politicamente. (COUTINHO, 1997, p.153)
Segundo Oliveira:
Apesar da histórica inexistência da participação política dos cidadãos nos processos de tomada de decisão, nasce na sociedade civil contemporânea, em conseqüência  do processo de democratização do Estado e da sociedade civil, uma cultura, a "cultura política participativa". (OLIVEIRA, 2003, p.61)
Apesar dessa conquista, em que os sujeitos sociais tem o direito de participar politicamente, ultrapassando o limite da intervenção através do voto, outros meios de participação na vida publica tão foram sendo construídos, por exemplos,  através de fóruns, movimentos sociais, ONGs, entre outros, o que parece, é que a representação política moderna faz  distinção entre governantes e governado, sendo que a capacidade de agir politicamente esta restrita a minoria que detém o monopólio da decisão. E o cidadão parece voltar a ser um cidadão passivo, a mercê das decisões feitas pelos representantes políticos escolhidos.

Democracia enfraquecida?

Sartori (2001),  afirma que a democracia está enfraquecida, pois o povo, cujo direito legítimo para exercer o poder, está ficando menos capacitado para exercer tal, isto é, a democracia  depende de uma "coletividade participante interessada e informada a respeito da democracia". Assim a sociedade moderna parece estar despolitizada, marcada pela indiferença pelas questões política. (SARTIORI, 2001, p.108-112)
Quem promove esse enfraquecimento, segundo Sartori, é a mídia, pois esta "está contribuindo para empobrecer drasticamente a informação e a formação do cidadão", sendo responsável por gerar um novo tipo de ser humano: homo videns. Indivíduos incapazes de fazer abstrações, incapaz de julgar, de fazer criticas,  tutelados, conduzido pela imagem, incapazes de compreender os problemas e enfrentá-los de maneira racional. (SARTIORI, 2001, p.114)
Além disso, os partidos políticos, nesse sistema eleitoral são personificados. A videopolítica direciona a ação do político profissional. Nesse sentido,"a política pelas imagens se centraliza na exibição de pessoas", na emotivizaçao  política, nos falsos testemunhos,  portanto a política se torna um jogo de resultados, em que "a videopolitica reduz o peso e a essencialidade dos partidos"(  SARTIORI, 2001, p. 93 -95)
Para exercer a cidadania, exige-se que aumente o número dos informados e ao mesmo tempo a sua competência, o seu conhecimento e a sua capacidade de compreender a política ( SARTIORI, 2001,  p.113),  isto é  cidadãos competentes, capazes de fazer política. E Para democratizar a democracia é preciso integrar a Mídia, a escola, o poder publico e também  é necessário que a sociedade civil se organize na  luta para maior inserção na atividade política.
Ao contrário do que pensa Sartiori, o cientista político Amaury de Souza (2006) afirma, em um artigo da Revista Época sobre as eleições de 2006, que os eleitores estão muito bem informados sobre a política, e isso gera uma indignação, desilusão em relação aos políticos, que estão emersos num escândalo de corrupção. Conseqüentemente essa imagem que os políticos transmitem afasta as pessoas de participarem da política e ‘'elas exergam na política um ambiente de quem não tem ética e moral, por isso não querem participar'' (MOISÉS apud Loyola; Evelin, 2006).
Apesar dessa afirmação do cientistas político Amaury, reconhecemos o importante papel da mídia na informação, mas  o que se percebe é uma despolitização dos cidadãos, visto que quem  dirige esses meio de informação são os grupos econômicos que  não tem compromisso algum com a população, com a viabilização da emancipação humana.
 Então Como organizar-se na luta para maior inserção na atividade política, se o que percebe é um descrédito nos sistemas de representação política?
 Esse processo de construção da cidadania é continuo e dever de todos para que a democracia, de fato, seja participativa por todos sem distinção de classe, gênero, raça, sexo.  Para Marx, o sistema capitalista não favorece a emancipação humana, isto é, a   plena cidadania, o ideal da soberania popular , e isso só seria possível em uma sociedade sem classes.(COUTINHO, 1997, p.159)
Portanto, como vimos, são atribuídos a noção de  Sociedade civil múltiplos significados.
A sociedade civil definia-se ora como a esfera de constituição política (e do  Estado), contrapondo a barbárie, ora como a capacidade de auto-regulação e determinação da esfera econômica (do mercado), em face do individualismo e do Estado, ora ainda como potencialidade do mundo da cultura e das ideologias na construção de uma hegemonia Política. (SCHERER, 1999, p.40)
 A sociedade civil, para Bobbio, é o campo das várias mobilizações, associações e organização das forças sociais ( BOBBIO apud Scherer, 1999, p.40) e, onde emanam os conflitos que demandam soluções políticas  e ao mesmo tempo, emanam alternativas para a solução dos conflitos na órbita política.
Nesse sentido, A juventude,  parte da sociedade civil, é vista como o futuro da nação. Contudo, em meio a tanto descréditos, desesperanças no sistema de representação político, como os jovens, na sociedade contemporânea, vêem a política? Será que estes  tem uma participação ativa na sociedade ou pelo menos se  interessam pelos problemas sociais e políticos?
Segundo a pesquisa "Juventude Brasileira e Democracia" realizada pelo IBASE (Instituto Brasileiro de Analises Sociais e Econominas e Instituto Polis, "revelou que jovens das regiões metropolitanas do País vivem confinados em seus bairros pela ausência de espaços públicos coletivos nas cidades." (SEMINÁRIO EU DECIDO!, 2006, p.4)
Se para os gregos, a participação política esta ligada a idéia de liberdade, na atualidade, essa participação, principalmente da juventude, está restrita a capacidade de votar, pois, "os jovens de hoje estão aprisionados no mundo das necessidades. Um mundo que pressiona por resposta a anseios pessoais e não coletivos, um mundo que cobra para competir, ser empreendedor, um mundo concorrencial, que mitiga a idéia da esfera pública." (SEMINÁRIO, EU DECIDO!, 2006, p.4)
No seminário do "Eu decido!", realizado em São Paulo, no ano de  2006, um grupo de jovens definiu que "os pressupostos da democracia moderna é contradição,  conflito e o livre pensamento" e que a democracia representativa "é menos precária porque  temos, ao menos, uma Constituição que garante igualdade de direitos em um país em que nem todos são cidadãos. E também, o distanciamento da a sociedade civil  em relação á sociedade política torna a sociedade como um todo menos democrática.
a pesquisa realizada  no ano de 2008 pelo IBSA (Instituto Brasileiro de Analises Sociais e Economica), ‘'Juventude e Integração Sul-americana: diálogos para construir a democracia regional'', deixa claro quais a perspectiva juvenil frente a democracia, aos valores e a mudança de vida e ainda revela uma juventude estigmatizada, por aspectos negativos. Para mudar a vida pessoal jovens e adultos (somados) apostam nas intervenções ligadas à esfera privada: 44% do total de pesquisados apostam no próprio esforço pessoal, enquanto outros 27% contam com o apoio familiar. Menos de um quarto da mostra assinala opções mais sistêmicas ou estruturais (soluções econômicas e políticas governamentais

O fator mais importante considerado pelos jovens brasileiros, nessa pesquisa, para transformar o país são as políticas governamentais (36%) e apenas 4% dos jovens entrevistados consideram que a pressão/atuação das organizações sociais para transformar o país.  Mais da metade dos jovens entrevistados (55%) consideram a corrupção entre os políticos um entrave para democracia no século XIX.
Outra parcela, quase correspondente à metade dos entrevistados (47%), contudo, localiza na estrutura econômica e social, representada pela desigualdade entre ricos e pobres, a principal ameaça à democracia na atualidade.

Esta pesquisa revela que a juventude valoriza mais o trabalho do que a educação, pois o mais  importante para os jovens hoje é "ter mais oportunidade de trabalho", mais a experiência e menos a educação como fator de ingresso no mercado de trabalho.
Assim, o que parece é a juventude está cada vez menos interessados, desiludidos a vida política, aos problemas político. É preciso que haja uma educação capaz de ensinar o que de fato é a política e a importância da  participação comunitária , mobilizando através de fóruns de discussão, seminários.
Uma educação que ofereça condições para reinventar, intervir no mundo no sentido de transformá-lo. Isso só é possível com uma educação critica....contudo esse é uma grande desafio, já que a educação tem servido mais como um instrumento para manter a ordem social vigente, que oprime, aliena os indivíduos fazendo–se com que eles percam as esperanças, não participem ativamente na sociedade. Tonet afirma que o campo da educação é um espaço de onde se trava uma incessante luta, pois há uma disputa antagônica entre diferentes perspectivas.
Embora Tonet considera que a Educação deve estar articulada com a Emancipação humana e não com a emancipação política, ainda considero importante uma educação política  ( visto que a política está presente no nosso cotidiano , em todos os aspectos da nossa vida em sociedade) capaz de despertar na juventude o ato da participação, sendo essa imprescindível para  possibilitar a autonomia e a construção de um nova sociabiliade.

Conclusão

Diante das facetas  da política na sociedade moderna,e do descrédito que esta tem passado não só ao jovem, mas na população em geral,  gerando um certo arredio a participação política, faz-se necessário uma educação política, seja por meio de uma democratização dos meios de comunicação, discussão nos espaços institucionais, afim de contribuir na  politização destes com um novo direcionamento sobre o que é política, frisando que a política  vai além dos atos dos políticos profissionais e que ela esta presente no nosso cotidiano, nas nossas relações com nossa família, amigos, professores, etc.
Por isso é preciso entender que a política é mais do que simplesmente, votar.  Então, é preciso iniciar demarcando o que se entende por "política", percebendo que o termo:
- não se resume apenas a organizações partidárias (partidos políticos);
- aponta para as diversas políticas públicas em andamento, dos mais variados (....)
- órgãos que compõem a grande política de desenvolvimento (econômico, social,ambiental, cultural, agropecuário, etc) do país;
- pressupõe o envolvimento dos diversos grupos e classes sociais da sociedade brasileira (cada qual com suas pautas, demandas e interesses próprios); (DABONI, 2007, p.2)

Além disso, é preciso perceber que nossa ação política está presente em todos os momentos da vida, seja nos aspecto privado ou público. Vivemos com a família, relacionamos com as pessoas no bairro, na escola, somos parte integrantes da cidade, pertencemos a um Estado e País, influímos em tudo o que acontece em nossa volta. "Podemos jogar lixo nas ruas ou não, podemos participar da associação do nosso bairro ou fazer parte de uma pastoral ou trabalhar com voluntário em uma causa em que acreditamos".  Ainda, podemos votar em um político corrupto ou votar num bom político, por isso precisamos conhecer melhor propostas, discursos e ações dos políticos que nos representam.
Para isso, é fundamental que os jovens se organizem, participem diretamente da política e pratiquem a democracia participativa.
Este é o caminho, uma educação política  da juventude , para serem  sujeitos críticos, participativos, não só nos períodos eleitorais, mas cobrar, fiscalizar os representantes políticos escolhidos para governar nossa cidade, Estado e país afim de se tornarem atores do  desenvolvimento sobre a construção e o destino da sociedade em que vivem, entendendo que quem faz política não é só quem está no poder, mas cada um de nós, sujeitos sociais. E sobretudo, Uma educação articulada a cidadania que pressupõe a emancipação humana, de acordo com Tonet (1997, p.8-14), que vai muito além da emancipação política.

































Referências Bibliográficas

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CAMPOS, Edval Bernadino. Assistência Social: do descontrole ao controle social. In Revista Ser Social e Sociedade. Editora Cortez, São Paulo, 2006.

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SARTORI, Giovanni. Homo Videns: Televisão e pós-pensamento. São Paulo: editora EDUSC, 2001
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TONET, Ivo. Educar para a Cidadania ou para Liberdade?





http://www.artigonal.com/educacao-artigos/educacao-politica-uma-condicao-necessaria-para-a-participacao-juvenil-3964336.html
Perfil do Autor

graduada em Serviço Social pela Universidade Federal de Mato Grosso em Junho de 2010.

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Alguém se habilita?