segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Tapete Vermelho do Óscar 2012 - Viva a nostalgia!

                              
Ubiracy de Souza Braga*
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em inglês: Academy of Motion Picture Arts and Sciences - AMPAS, ou simplesmente, Academy, “é uma organização profissional honorária dedicada ao desenvolvimento da arte e ciência do cinema”, cujo conjunto dos indivíduos vive sob as mesmas normas e relações entre eles. Foi fundada em 11 de maio de 1927, na Califórnia, Estados Unidos da América. É composta por mais de seis mil membros. Naturalmente a maior parte de seus membros é norte-americana, mas a “filiação é aberta a cineastas qualificados de todo o mundo”. No ano de 2004 a Academia possuía em seu quadro cineastas de 36 países. É conhecida no mundo pelo seu prêmio anual, Academy Awards, conhecido informalmente como Óscar. Há também o prêmio para estudantes universitários, o Student Academy Awards, que “premia cineastas graduandos e pós-graduandos”. O atual presidente da Academia é Sid Ganis.
O termo Kulturindustrie foi cunhado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), a fim de designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. Membros da Escola de Frankfurt, os dois filósofos alemães empregaram o termo pela primeira vez no capítulo “O iluminismo como mistificação das massas” no ensaio: Dialética do Esclarecimento, escrita em 1942, mas publicada somente em 1947. Para ambos “a autonomia e poder crítico das obras artísticas derivariam de sua oposição à sociedade”. E, sobretudo o fato de que o valor contestatório dessas obras poderia não mais ser possível, já que provou “ser facilmente assimilável pelo mundo comercial”. Adorno e Horkheimer afirmavam que a “máquina capitalista” de reprodução e distribuição da cultura estaria apagando aos poucos tanto a arte erudita quanto a arte popular. Isso estaria acontecendo porque o valor crítico dessas duas formas artísticas é neutralizado por não permitir a participação intelectual dos seus espectadores. A arte seria tratada simplesmente como objeto de mercadoria, estando sujeita as leis de oferta e procura do mercado enquanto tal.
Ela encorajaria uma visão passiva e acrítica do mundo ao dar ao público apenas o que ele quer, desencorajando o esforço pessoal pela posse de uma nova experiência estética. As pessoas procurariam apenas o conhecido, o já experimentado. Por outro lado, essa indústria prejudicaria também a arte séria, neutralizando sua crítica a sociedade. Em todos os ramos da “indústria cultural” (Kulturindustrie) existem produtos adaptados ao consumo das massas, sendo por elas que as indústrias se orientam, tendo no consumidor não um sujeito, mas um objeto. Este termo define as produções artísticas e culturais organizadas no contexto das relações capitalistas de produção, uma vez lançadas no mercado, é por estes consumidas. Enfim, a indústria cultural idealiza produtos adaptados ao consumo das massas, assim como também pode determinar esse consumo trabalhando sobre “o estado de consciência e inconsciência das pessoas”. Ela pode ainda ter função no processo de acumulação de capital, reprodução ideológica de um sistema, reorientação de massas e imposição de comportamento.
Quando o assunto é o existencialismo no cinema, os críticos se dividem. Há uma corrente de pensamento que acredita que Jean-Paul Sartre influenciou cineastas em suas produções. E há aquelas que preferem crer nas coincidências. E existem na história fatos sociais que comprovam alguma relação do filósofo com a Sétima Arte. Como por exemplo, sua atuação como roteirista. De acordo com o artigo “A Estética Existencialista”, publicado na Enciclopédia de Filosofia de Stanford em 26 de junho de 2009, o filósofo escreveu roteiros durante a Segunda Guerra Mundial, em sua temporada como empregado de uma produtora: “Huis clos”, entre nós, lançado como “Entre Quatro Paredes”, “Les jeux sont faits”, em português: “Os Dados Estão Lançados” e “I Sequestrati di Altona”, em português: “O Condenado de Altona” foram os que resultaram em filmes.
                       Foto: Capa do filme “Entre Quatro Paredes”, de Jean-Paul Sartre.
De fato o século XX consumou um processo iniciado no século XIX, promovendo o ingresso da produção artística na “era de sua reprodutibilidade técnica”, para concordarmos com o Walter Benjamin de 1935. A aura que existia em torno das obras de arte originais como manifestação de uma “realidade distante”, mesmo quando próxima como ocorre entre nós com a igreja Matriz ou o centro de Arte e Cultura Dragão do Mar, na cidade de Fortaleza, a igreja da Penha ou o Cristo Redentor, na cidade Maravilhosa, ou local mais visitado da cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, a estátua do Padre Cícero, com 27 metros de altura, que está localizada na Serra do Horto. Padre Cícero morreu em 20 de julho de 1934. A estátua foi esculpida pelo artista Armando Lacerda no ano de 1969, ou, para sermos breves, o Farol da Barra, em Salvador, onde os Novos Baianos cantavam: “onde tudo é tão rápido como se furta”, tendem a desaparecer naquele benjaminiano. No lugar deles, cresce o “valor de exposição”, ligado à possibilidade de que as criações artísticas reproduzidas em ampla escala sejam postas imediatamente ao alcance de um número enorme de pessoas. O cinema, seguindo a trilha aberta por Benjamin é o melhor exemplo dessa nova característica. O filme já nasce multiplicado em muitas cópias para tornar-se rentável, exibido em salas, cinemas, cidades, países numa escala globalizada. E como Benjamin não tem uma posição hostil ao cinema, ele enquanto arte é o melhor exemplo dessa nova característica.
A história social da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood revela três filmes como os mais premiados “de sempre”, tendo arrecadado 11 estatuetas douradas cada um: a) “Ben-Hur”, o grandioso épico realizado em 1959 por William Wyler; b) “Titanic”, realizado em 1997, o maior sucesso de bilheteira “de sempre”, realizado por James Cameron; e, c) “O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei” (2003), última parte da trilogia que Peter Jackson adaptou do monumento literário da autoria de J. R. R. Tolkien. Dos três, o último tem a particularidade de ter vencido em todas as categorias em que foi nomeado, embora muitas delas sejam técnicas e não incluam as “sempre prestigiantes categorias de representação”. Quanto a “Ben-Hur”, falhou apenas uma das suas 12 nomeações - na categoria de Melhor Argumento Adaptado. Finalmente, “Titanic” foi o mais nomeado dos três com 14 nomeações, tendo perdido nas categorias de Melhor Atriz Principal (Kate Winslet), Melhor Atriz Secundária (Gloria Stuart) e Melhor Caracterização. Encontram-se dois filmes  que  venceram 10 óscares: “West Side Story - Amor Sem Barreiras” (1961), de Robert Wise e Jerome Robbins; e “E Tudo o Vento Levou” (1939), de Victor Fleming.
O famoso musical só perdeu na categoria de Melhor Argumento Adaptado, enquanto o clássico com Clark Gable e Vivien Leigh perdeu nas categorias de Melhor Ator (Clark Gable), Atriz Secundária (Olivia De Havilland), Banda Sonora, Efeitos Especiais e Som. Em compensação, venceu um óscar honorário e outro técnico. Com nove óscares ganhos, existem três filmes: “Gigi” (1958), de Vincent Minnelli; “O Último Imperador” (1987), de Bernardo Bertolucci; e “O Paciente Inglês” (1996), de Anthony Minghella. Os dois primeiros venceram em todas as categorias em que estavam nomeados, enquanto o último perdeu três das suas 12 nomeações, duas delas para os seus atores principais (Ralph Fiennes e Kristin Scott Thomas). Finalmente, há seis filmes que venceram oito óscares: “Até à Eternidade” (1953), de Fred Zinnemann; “Há Lodo no Cais” (1954), de Elia Kazan; “My Fair Lady” (1964), de George Cukor; “Cabaret - Adeus Berlim” (1972), de Bob Fosse; “Gandhi” (1982), de Richard Attenborough; e “Amadeus” (1984), de Milos Forman.     
                            Foto da Estatueta do Óscar (Ethan Miller/AFP).
As célebres estatuetas dos Oscar, entregues anualmente nos Estados Unidos, para premiar astros e estrelas e as produções do cinema mundial são, ainda hoje, fabricadas artesanalmente num estabelecimento de Chicago. Sua elaboração passa por um longo processo: em primeiro lugar, uma liga de metal derretido, na forma de duas grandes gotas de água de estanho, é colocada delicadamente em moldes para esfriar. Em seguida, vem a parte do corte dos excessos e o polimento propriamente dito, que exigem 40 longas e delicadas horas de trabalho, como parte do preparo das figuras para as luzes de Hollywood. A Academia que concede o prêmio mais famoso da indústria do cinema americano está determinada a conservar este processo de fabricação artesanal, devido à sua qualidade. Um dos riscos que não quer incorrer é ver repetir o episódio da entrega dos Golden Globes, outros prêmios do cinema, quando o ator norte-americano Robert De Niro chegou para a entrevista à imprensa sem seu troféu, porque a estatueta em questão perdeu a cabeça. “A parte de cima caiu”, disse ele aos jornalistas, acrescentando: “eles terão que soldá-la novamente”.
Historicamente de Greta Garbo a Helen Mirren, passando por Elizabeth Taylor, foram muitas as atrizes que interpretaram “rainhas inesquecíveis no cinema”. A lendária atriz sueca Greta Garbo interpretou em 1933 uma memorável Rainha Cristina em “A Rainha Cristina”, de Rouben Mamoulian, marcando o regresso da atriz ao cinema após um ano e meio de interregno. No século XVII, a Rainha Cristina da Suécia é uma governante europeia de grande relevo que nunca pensou em romance, até que um dia se apaixona secreta e acidentalmente por um emissário espanhol. Outra rainha mítica é Cleopátra, interpretada por Elizabeth Taylor no filme homónimo realizado por Joseph L. Mankiewicz em 1963. Taylor, Richard Burton (como Marco António) e Rex Harrison (como Júlio César) são as estrelas desta arrebatadora história de poder e traição. Trata-se de um inesquecível retrato desta poderosa mulher de irresistível beleza que seduziu dois dos mais notáveis soldados romanos e mudou o rumo da História. Grandioso do ponto de vista visual e técnico, o filme foi premiado com Óscares nas categorias de Melhor Fotografia, Direção Artística, Guarda-Roupa, Cenários e Efeitos Especiais.
Cate Blanchett fez um poderoso retrato da Rainha Elizabeth de Inglaterra no filme com o mesmo nome de Shekhar Kapur, em 1998. No século XVI, sob o reinado da rainha católica Mary I, o país ficou arruinado e devassado pelas lutas religiosas, na sua tentativa de impor o catolicismo. Sucede-lhe Elizabeth Tudor, filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, que restabelece o protestantismo, sendo excomungada pelo Papa, o que abre as portas à inimizade da França e de Espanha. Aconselhada a um casamento de conveniência para obter uma aliança que lhe permita manter a coroa, Elizabeth sabe que tem que agir com firmeza, se não quiser sucumbir à Europa e à nobreza católica de Inglaterra. O filme impulsionou Cate Blanchett para uma carreira internacional, que teve aqui uma das suas grandes interpretações, tendo vencido o Globo de Ouro de Melhor Atriz e obtido a nomeação para o Óscar da mesma categoria. Retomou o mesmo papel na sequela - “Elizabeth: A Idade de Ouro” (2007) - e foi nomeada outra vez para o Óscar de Melhor Atriz. Vencedora do Óscar de Melhor Atriz foi Helen Mirren pelo seu papel de Rainha Isabel II em “A Rainha” (2006), de Stephen Frears. Aclamado pela crítica, o filme retrata os acontecimentos que tiveram lugar imediatamente a seguir à morte da Princesa Diana e a forma como a Rainha e o primeiro-ministro Tony Blair lidaram com a situação. Finalmente, uma nota para a excelente Rainha Vermelha encarnada por Helena Bonham-Carter na recente versão de Tim Burton de “Alice no País das Maravilhas” (2010). Uma versão livre - e muito conseguida - da Rainha de Copas do clássico de Lewis Carroll.
Os casos mais escandalosos lembra Brito (2012), “são os de 1952 e 1974”. Em 1952 os indicados “Depois do vendaval” (John Ford), “Matar ou morrer” (Fred Zinnemann) e “Moulin Rouge” (John Huston) perderam para “O maior espetáculo da terra”, filme tolinho e menor de Cecil B DeMille. Já em 1974 os ótimos “Todos os homens do presidente” (Alan Pakula), “Rede de intrigas” (Sidney Lumet) e “Taxi driver” (Martin Scorsese) foram derrotados por “Rocky, o lutador” (John G. Avildsen). Pode? Bem, estes foram injustiçados, mas pelo menos estiveram na lista dos indicados como melhores filmes do ano. Pior é quando nem a indicação aconteceu. Sim, bem mais grave do que o erro na premiação, é o gesto de ignorar, ou seja, o gesto de sequer indicar filmes que tinham qualidade para ganhar.
 Em ordem cronológica, segue aqui uma relação de grandes filmes, hoje considerados clássicos em seus respectivos gêneros, que nunca tiveram nenhuma indicação ao Oscar - e vejam bem! - em “nenhuma das muitas categorias pelas quais se premiam os melhores do ano”. O primeiro é o belo “Luzes da cidade” de Chaplin (1931), vocês lembram, a comédia dramática sobre uma “violetera cega” que se cura com uma operação paga pelo mendigo Carlitos. A impagável comédia “O diabo a quatro” (1933) com os irmãos Marx. No mesmo ano está a fantástica aventura de Merian C. Cooper, “King Kong”, sobre o macaco gigante que quase destrói o Empire State Building. Protagonizado por Claude Rains, e dirigido pelo mestre James Whale, “O homem invisível” (1937) ainda hoje é tido como um dos ótimos “science-fiction de terror do século”. No ano seguinte, a comédia maluca de Howard Hawks, “Levada da breca” tinha qualidade para competir com os indicados do ano, e não viu nem o “azul da indicação”.
 Outro Chaplin ignorado foi “Tempos modernos” (1935), filme fundante sobre os efeitos do automatismo no trabalho. Idem, para “Contrastes humanos” (1941) de Preston Sturges, essa obra prima pouco conhecida do público, talvez pela falta de indicação. Em 1946, três grandes filmes foram esnobados: o noir “À beira do abismo” (Howard Hawks), o western “Paixão dos fortes” (John Ford) e o drama “Gilda” (Charles Vidor). Em 1948 foi a vez de “Carta de uma desconhecida”, o belo melodrama de Max Ophuls, e “A dama de Shangai”, o suspense misterioso de Orson Welles. Em 1950 “Winchester73”, o western de Anthony Mann “passou batido”, e em 1953 quem ficou de fora foi o forte drama policial de Fritz Lang, “Os corruptos”. Em 1955 não deram nenhuma chance a “O mensageiro do diabo”, aquele único filme que o ator Charles Laughton dirigiu com extremo capricho. Em 1956 John Ford ficou no escanteio mais uma vez, com o seu filme “Rastros de ódio”, mais tarde incluído na lista dos dez mais da crítica internacional.
Em 1957, quatro grandes filmes foram aparentemente ignorados pela Academia, a saber: a) “A embriaguez do sucesso” (Alexander McKendrick), b) “O homem errado” (Alfred Hitchcock), c) “Glória feita de sangue” (Stanley Kubrick) e, finalmente, d) “Um rosto na multidão” (Elia Kazan), sem coincidência, todos os filmes fortes, livremente baseados em situações reais. Em 1958 foi esquecido o excelente science-ficction de Don Siegel “Vampiros de almas”, como também o drama policial de Orson Welles “A marca da maldade”, em que Charlston Heston tanto investiu afetivamente, para poder atuar ao lado de Welles. E em 1959 foi a vez de “Onde começa o inferno”, mais um Howard Hawks desconsiderado.
Em 1961 a Academia teve a petulância de esnobar uma produção que reunia John Huston (diretor), Arthur Miller (roteirista), Montmongery Clift, Clark Gable e Marilyn Monroe: “Os desajustados” (“The Misfits”). No ano seguinte, “Pistoleiros ao entardecer” esse “comovente western maduro de Sam Peckimpah bem que poderia ter estado entre os indicados”. Outro western da década de 1960 que não teve uma só indicação foi “Era uma vez no Oeste” (Sergio Leone, 1968). A homenagem que Woody Allen (roteirista e ator) fez a “Casablanca”, “Sonhos de um sedutor” (1972), tampouco mereceu indicação. Quase ninguém se dá conta, mas “O iluminado” de Kubrick não teve a mais simples indicação em 1980. E para não estender mais a lista (pois ela é muito maior do se  pode pensar) “Era uma vez na América” (1984), essa bela saga da máfia por Sergio Leone foi mais um dos ignorados pela Academia de Hollywood. Com favoritos muito a frente dos outros, tudo indica que a premiação deste ano será previsivelmente tranquila e sem surpresas, mas isto, certamente não nos fará esquecer o passado.
Nas várias categorias da lista dos indicados, notem a quantidade de filmes - cerca de dez - cujas estórias se passam na primeira metade do século XX, ou mesmo antes. É verdade que alguns desses filmes não foram “rodados” em Hollywood, mas, de todo jeito, o fato de a Academia os indicar ao Prêmio sugere o centramento no passado, talvez de um ponto de vista nostálgico. Para começar com os dois mais cotados ao Óscar, “A invenção de Hugo Cabret” (“Hugo”, Martin Scorsese) se passa na Paris dos anos 1930, e “O artista” (“The artist”, Michael Hazanavicius), na Hollywood de 1927/33, quando o som “havia chegado e abalado o cinema mudo”. E, engraçado, sintam o quiasmo: nos mesmos anos 1930, Paris vista por norte-americanos e Hollywood vista pelo olhar dos franceses.
Complicando o quiasmo, o filme de Woody Allen, “Meia noite em Paris” (“Midnight in Paris”) “só parcialmente tem a Paris de hoje como assunto” - nele o grande lance é mesmo “o mergulho retroativo nos anos 1920”, onde o protagonista vai encontrar tudo o que interessa a uma mente criativa, e - sintam a ironia - o cara tem que profissão? Sim, roteirista de Hollywood! E, claro, um roteirista em crise. Depois de sua longa e abstrata introdução atemporal, “A árvore da vida” (“The tree of life”, Terence Mallick) se centra na estória de uma relação entre pai e filho nos anos 1950. Já “Cavalo de guerra” (“Warhorse”, Steven Spielberg) cavalga mais para trás ainda, relatando o paradeiro do animal do título, e seu tempo fica em torno da Primeira grande Mundial (1914/1918).
 Com Meryll Streep no papel-título, “A dama de ferro” (“The iron lady”, Phyllida Lloyd) reconstitui a vida da poderosa Primeira Ministra britânica, e claro, o tempo diegético inevitavelmente recobre boa parte do século passado, começando nos anos 1940. E por falar em Inglaterra, “Sete dias com Marilyn” (Simon Curtis, “My week with Marilyn”), como o título já sugere, remonta à década de 1950, na ocasião em que Laurence Olivier tentava filmar “O príncipe encantado” (1957) com a mítica e problemática Monroe. Já “Histórias cruzadas” (“The help”, Tate Taylor) se reporta ao começo dos anos 1963 quando uma pretensa escritora recolhe, no racista condado de Mississipi, “depoimentos de uma comunidade negra feminina”.
 O mais remoto no tempo diegético, dos indicados, é com certeza “Albert Nobbs”, (Rodrigo Garcia), que, contando a difícil estória dessa mulher que se disfarça de homem para sobreviver (Glenn Close), se passa na Irlanda do século XIX. Ou seja, nesse esquema geral de remissão ao passado, “Os descendentes”, “O homem que mudou o jogo” e “Tão forte tão perto” - filmes com estórias contemporâneas - parecem exceções. E vejam que até um não indicado (mas que bem poderia ter sido!) também se reporta ao passado. Refiro-me ao último filme de Clint Eastwood, “J. Edgar”, “semi-biografia” do diretor do FBI que, por trás de sua perigosa fachada de déspota, escondia um perigo - para a época - maior: a sua homossexualidade. Uma reportagem da AP afirmou que os prêmios Globo de Ouro destaca apoio de Hollywood “para a homossexualidade e transexualidade”.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou no dia  26 de abril, o calendário oficial da 84ª edição do Oscar, a principal premiação do cinema mundial. A cerimônia mais importante da Sétima Arte acontecerá hoje, dia 26 de fevereiro de 2012, mas antes desta data os mais de seis mil membros da associação  cumpriram uma série de prazos da premiação. Os votantes tiveram até o dia 13 de janeiro para apontar seus indicados, enquanto que a lista completa destes fora anunciada no dia 24 de janeiro. Com as indicações oficiais, os integrantes da Academia recebem prazo para nova votação, agora incluindo apenas os filmes finalistas. A data final para a votação definitiva do Oscar foi 21 de fevereiro. O tradicional jantar dos indicados aconteceu na segunda-feira, 6 de fevereiro. Ainda não existem nomes cotados para a apresentação do evento, mas após as críticas recebidas por Anne Hathaway (“O Diabo Veste Prada”) e James Franco (“Homem-Aranha”) este ano tem se apontado para a possibilidade de buscarem um nome mais tradicional, como Billy Crystal (“Os Queridinhos da América”).
No caso brasileiro, o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, recebeu 15 inscrições de filmes de longa-metragem interessados em concorrer à premiação. As inscrições encerraram-se no dia 31 de agosto 2011. Coube à Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC) prestar apoio técnico, administrativo e financeiro à Comissão de Seleção, cujos membros não podem ter qualquer vínculo com os filmes concorrentes, sob pena de desclassificação da inscrição considerada irregular. Saibam quais são as produções brasileiras inscritas (títulos em ordem alfabética): “A Antropóloga”, de Zeca Nunes Pires - Mundo Imaginário Produções Cinematográficas LTDA.; “As mães de Chico Xavier”, de Glauber Filho e Halder Gomes - Luz Produções Cinematografia LTDA; “Assalto ao Banco Central”, de Marcos Paulo - Total Entertainment; “Bruna Surfistinha”, de Marcus Baldini - Tvzero Cinema LTDA; “Estamos Juntos”, de Toni Venturi - Olhar Imaginário Ltda; “Família Vende Tudo”, de Alain Fresnot - A. F. Cinema e Vídeo; “Federal”, de Erik de Castro - BSB Cinema Produções; “Filme Vips”, de Toniko Melo - 02 Cinema Ltda; “Histórias Reais de um Mentiroso VIPS”, de Mariana Caltabiano - Mariana Caltabiano Criações; “Lope”, de Andrucha Waddington - Conspiração Filmes S/A; “Malu de Bicicleta”, de Flávio Ramos Tambellini - Tambellini Filmes e Produções Audiovisuais; “Mulatas! Um Tufão nos Quadris”, de Walmor Pamplona - Carioca Filmes; “Quebrando o Tabu”, de Fernando Grostein Andrade - SPRAY Filmes S/S LTDA; “Trabalhar Cansa”, de Juliana Rojas e Marco Dutra - Dezenove Som e Imagem; “Tropa de Elite 2”, de José Padilha - Zazen Produções Audiovisuais Ltda.
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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Bibliografia geral consultada:
ADORNO, Theodor W., “Ideias para a Sociologia da Música”. In: Teoria e Prática. São Paulo: Teoria e Prática Editora, nº 3, abril de 1968, Idem, “Tiempo Libre”. In: Consignas. Buenos Aires: Amorrortu, 1969a; Idem & HORKHEIMER, Max, Dialektik der Aufklärung. Frankfurt/M, 1969b; Idem, Teoria Estética, Arte e Comunicação. São Paulo: Martins Fontes, 1970; Idem, Dialéctica del Iluminismo. Buenos Aires: Sul, 1971; ADORNO, Theodor Adorno e HORKHEIMER, Max, “A indústria cultural - o iluminismo como mistificação das massas”. In: Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002; BENJAMIN, Walter, L`opera d`arte nell`epoca della riproducilità técnica. Turim: Einaudi, 1966; Idem, “L` ouvre d` art à l` ere de sa reproductibilité techinique”. In: L` Homme, le langage et la culture. Paris: Danoël, 1971; Idem, A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980; BRITO, J. B. de, “Oscar - os ignorados”. http://imagensamadas.com/tag/academia-de-hollyood, 2012; COHN, Gabriel, Comunicação e indústria cultural. 2ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1971; AUGÉ, Marc, La Guerre des Rêves. Exercices d’Ethno-Fiction. Éditions du Seuil, avril 1997; BARILE, G., “et alli”, Economia e Politica dei Mass Media. Tra produzione di merci e produzione di senso. Milano: Franco Angeli Editore, 1979; BOBBIO, Norberto, “Gramsci e la concezione della societá civile”. In: Gramsci e la cultura contemporânea. Editori Riuniti, 1960, vol. I; BRAGA, Ubiracy de Souza, “De las Carabellas a los Autobuses Espaciales: la Trayectoria de la Información en el Capiatlismo”. In: Info 97. Ponencias. Cuba: Universidad La Habana, 1997; BRECHT, Bertolt, Über Politik und Kunst. Suhrkamp Verlag: Frankfurt am Main, 1971; DELEUZE, Gilles, Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 1974; Idem, Cinéma I: l` Image-Mouvement. Paris: Minuit, 1983; Idem, Cinéma II: l` Image-temps. Paris: Minuit, 1985 entre outros. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O ensino de filosofia e a questão das virtudes


Posted: 13 Feb 2012 08:46 AM PST
Renata Paiva Cesar

          Pensar no ensino de filosofia e na questão das virtudes na filosofia prática aristotélica não é tarefa fácil. Aristóteles pensou a filosofia de maneira vasta, seus estudos envolvem diversas áreas, mas para efeito desta pesquisa nos concentramos na análise da obra Ética à Nicômaco, com o objetivo de compreender qual seria a função da filosofia prática, quais os elementos envolvidos e principalmente o que seria a felicidade e as maneiras de alcançá-la. Do mesmo modo, pensar no ensino de filosofia é pensar em toda problemática envolvida durante toda a história até os dias de hoje. 
         Sobre a ética, Aristóteles nos diz que a filosofia prática é uma ciência que busca investigar o bem, mas relacionado com as ações humanas, com o objetivo de transformá-las, melhorá-las cada vez mais. Na filosofia prática envolve-se o saber teórico, já que se faz uma investigação sobre o próprio bem e busca-se teorizar sobre as ações dos homens, porém, o seu objetivo principal é buscar um saber prático, ou seja, um saber aplicável. O objetivo então é investigar o que seria o bem para assim alcançá-lo. 
A filosofia prática se distingue das outras ciências pelo seu fim muito específico: alcançar uma vida melhor. Ao analisarmos a Ética à Nicômaco, nos deparamos com a concepção de Bem aristotélica, que sugere que nos concentremos no bem realizável pelo homem. Todas as nossas ações tendem a um fim e este fim levado em suas últimas consequências é um fim comum a todos os homens: ser feliz. Todas as nossas ações visam ao mesmo fim, alcançar a felicidade, entendida como uma realização pessoal, ter uma vida próspera. Diante disto, realizou uma investigação sobre o que seria a felicidade e quais seriam os meios realizáveis para alcançá-la, o que nos levou a questão das virtudes, pois são elas que constituem o caminho necessário para alcançarmos a eudaimonia. 
           Considerando então que algo é considerado bom quando realiza sua função própria, isto é, o homem se tornará bom se for capaz de exercer a função que lhe é própria, ou seja, agir conforme a razão. As virtudes são disposições da alma. Assim como nossa alma é dividida em seu lado racional e outro emocional, as virtudes também se dividem, sendo a virtude moral a lidar com a parte emocional do homem e a virtude intelectual com a parte racional. Entendemos por virtudes morais as virtudes que estão quase sempre relacionadas com o conceito de justa medida, elas são respostas práticas às situações. Já as virtudes intelectuais relacionam-se com a parte racional de nossa alma. 
            Acredita-se que o estudo da ética, em particular das virtudes, tende a tornar o ensino de modo geral, mais humano, pois se pretende refletir acerca das ações humanas, ou seja, analisar como agimos, o porquê agimos assim e deste modo, poder pensar em outras possibilidades de ação que nos aproxime da felicidade, visto ser este o fim de todas as nossas ações. A contribuição de uma reflexão acerca das virtudes na sala de aula do ensino médio seria a de justamente permitir que os alunos pudessem pensar na questão de uma vida próspera, feliz. E a partir desta reflexão agirem conforme a função que lhes são próprias, agir conforme a reta razão, agir virtuosamente. 
           Sabemos que as virtudes não são inatas, que são aprendidas através da imitação e repetição. Assim, o ensino das virtudes morais se dá pelo exemplo, mas isto não invalida a utilização dos livros e teorias, pois com eles é que compreendemos o que deveríamos fazer ou ser, ou viver... (Comte-Sponville, 2001). Este seria um primeiro momento de um estudo das virtudes na sala de aula, porém, não basta teorizar, tem-se que buscar a prática, para que seu exercício torne-se um hábito, como propõe Aristóteles. Para Aristóteles a educação ética ajuda a transformar as potencialidades em ato e deste modo as pessoas serão capazes de viver bem e se realizarem, ou seja, serão felizes. Cartolano afirma que “a tarefa da filosofia é ser reflexão da prática; é orientar, organizar e fundamentar a atividade prática do homem, com vistas à transformação efetiva da realidade” (p. 84, 1985).  
          A virtude é o que define algo como sendo bom, é uma espécie de poder, mas um poder específico. Comte-Sponville se aproxima da concepção aristotélica quando afirma existir uma função própria para o homem, segundo um tipo de vida peculiar e ao indagarmos sobre qual seria a excelência do homem, Aristóteles responde que é ter uma vida racional, porém, podemos ir além e afirmar que é necessário, além da racionalidade, o desejo, a educação, o hábito, a memória... Segundo Comte-Sponville “a virtude de um ser é o que constitui seu valor, em outras palavras, sua excelência própria”, ou seja, a virtude do homem é agir humanamente. Neste sentido a finalidade de toda educação deve ser a de permitir que os alunos possam exercer a função que lhes é própria, isto é, agir bem, conforme a atividade virtuosa, de modo que assim possam tornar-se pessoas realizadas e enfim, felizes.  
            Nosso trabalho transitou pelas áreas da filosofia prática aristotélica e do ensino de filosofia no Brasil, porém, não podemos dar tal trabalho como acabado, há muito ainda que se investigar e, conseqüentemente, aplicar em nossa realidade. Deste modo, o objetivo é que possamos em breve prosseguir com os estudos e nos aprofundarmos nestas questões, chegando cada vez mais próximo de uma vida efetivamente próspera.

FONTE:
http://revistapandora.sites.uol.com.br/

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Têmpera de Niccolò di Bernardo dei Machiavelli.


  
                                                                                                 Ubiracy de Souza Braga*
                         “Mesmo as leis mais bem ordenadas são impotentes diante dos costumes”. (Maquiavel)
            A têmpera é a mistura usada em pintura, constituída de gema e clara de ovo, água e pigmentos em pó. Também é obtida misturando-se ingredientes oleosos com uma solução de água e cola. O artista pinta sobre um painel revestido de cola e gesso. Quando a têmpera é “corretamente aplicada” (fortuna), distribuída em finas camadas, “não fica transparente, nem completamente opaca” (virtù). A têmpera (cf. Viroli, 2002; White, 2007; Abrahão, 2009; Pires, 2010; King, 2010) foi aperfeiçoada na Idade Média e utilizada na maioria dos quadros de cavalete, do séc. XIII até o séc. XV. Como sinônimo de têmpera tem-se: a austeridade, o caráter, a consistência, o feitio, a índole, a rijeza e o temperamento, o que reitera “a Itália nos tempos de Maquiavel” (cf. Larivaille, 1979). 
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) viveu a juventude sob o esplendor político da República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici (cf. Tenenti, 1973; Larivaille, 1979; Ridolfi, 2003). Após uma adequada educação humanista, ingressou na burocracia do governo republicano de 1498, sendo principalmente empregada como secretário dos Dez de Guerra, a comissão responsável pela condução dos negócios militares e diplomáticos. Instalado em 1310 para investigar a conspiração de Baiamonte Tiepolo, tornou-se talvez o mais famoso de todos os órgãos de Estado do Renascimento.
Nunca foi literalmente um “Conselho de dez”. Era-lhe obrigatoriamente adicionada uma zonta de 20 membros não-votantes. Os conselheiros eram nomeados por um ano, com desqualificação de um ano antes de ser permitida a sua recondução. A responsabilidade do Conselho consistia em proteger o Estado de traição, interna ou externa; além de receberem relatórios regulares sobre os indivíduos, remetidos por reitores e outros funcionários nos territórios venezianos, empregava espiões e, ocasionalmente assassinos etc. Finalmente, até 1582, quando suas funções foram transferidas para o Senado, fiscalizava a produção e uso de artilharia, balas e pólvora.
             Neste cargo, etnograficamente, Maquiavel “observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra”. O defeito básico dos governantes e estadistas que Maquiavel conheceu consistia na fatídica inflexibilidade diante da mudança das circunstâncias políticas. César Borgia mostrava-se em todos os momentos arrogante em sua autoconfiança. Maximiliano, sempre cauteloso e excessivamente hesitante. Julio II, impetuoso e por demais agitado. Não souberam acomodar sua personalidade às exigências dos tempos. Ao invés disso, tentaram remodelar os tempos segundo sua personalidade. Este julgamento de Maquiavel constitui o cerne da análise da liderança política em Il Principe (1513). 
Depois de servir em Florença durante catorze anos foi afastado do cargo e escreveu suas principais obras. Como renascentista Maquiavel se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica de maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Lívio (50 a. C.-17 d. C.), além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de virtù, entendido como um traço de caráter que distinguia o homem enérgico, probo, corajoso, até arrojado (mas não imprudente), da sua contraparte convencionalmente virtuosa, tornando-o menos vulnerável às cavilações da “fortuna”. A fortuna é o imprevisível, o acaso, a sorte. A virtù é o saber como atuar de acordo com a necessidade do momento, é a “vontade-força”, qualidade fundamental do Príncipe.
Tal como Maquiavel encerrava O príncipe, com a “vontade-força” na expectativa de que surgisse na Itália dilacerada do seu tempo uma figura magnífica, despida de preconceitos, que lançasse mão de quaisquer recursos, mesmo que inescrupulosos, para unificar o país ameaçado pelos bárbaros, Nietzsche-Zaratustra esperava o mesmo na emergência de um “super-homem” (Übermensch). A singularidade do pensamento ideológico e filosófico de Nietzsche é que foi exposta por meio de um grande poema: “Assim falou Zaratustra” (Also spracht Zarathustra), iniciado em 1883. Nele o filósofo-poeta se apresenta atrás da roupagem do profeta iraniano Zaratustra ou Zoroastro (que viveu ao redor de 600 a. C. e que compôs o Zend-E-Avesta, dividido em cinco Gathas, ou “canções proféticas”), anunciando a boa nova da chegada do super-homem (após ter passado anos no alto de uma montanha, o profeta, exilado numa caverna, para onde havia se retirado a fim de meditar, tinha como companhia apenas uma águia e uma serpente). Dali Zaratustra desce para vaticinar a vinda daquele que irá superar o homem: o super-homem (Übermensch).
Mal entendidos semelhantes associam-se à noção do “grande homem”, a quem Hegel foi o primeiro a discutir filosoficamente. Como o super-homem (Übermensch) de Nietzsche, o herói hegeliano foi mal compreendido e equivocadamente visto “como o protótipo para o homem subumano do fascismo e do nazismo”. Mas Hegel deu origem a esses movimentos de maneira muito mais sutil. Ao escrever sobre o “grande homem”, ele pensava em Napoleão. O que tem a dizer sobre ele é verdadeiro, ainda que descreva apenas um aspecto do fenômeno da personalidade histórica mundial. Existe a enorme dificuldade neste desafio, que fazer justiça quer ao filme de Alfred Hitchcock como a um resumo da noção de Übermensch de Nietzsche. Podemos dizer, no entanto, que esta noção de super-homem é a culminação da sua visão sobre uma nova moralidade. É a experiência de uma “vontade de poder” (Wille zur macht) numa forma elevada, refinada e modelada na vida de um excelente artista criativo, que faz da sua própria vida uma obra de arte. Esta vontade de poder poderá, assim, ser entendida como o impulso inato de todos os seres vivos para adquirirem e expressarem o seu poder. De acordo com Nietzsche, todos são impulsionados por esta “vontade de poder” e a nossa tarefa será expressá-la de forma elevada. Para Nietzsche,
vontade, que não é nenhum poder da subjetividade humana, nada de decisão ou arbítrio de alguma faculdade subjetiva do homem, se refere, antes, à transcendência que caracteriza a inserção, que perfaz o círculo que é vida, que é arché. Assim, vontade da fala da espontaneidade do irromper da vida, de seu livre movimento de auto-exposição ou aparição. Espontaneamente, gratuitamente, vida é acontecimento de vir à luz, fazer-se sensível e, assim, crescer, isto é, agravar-se, intensificar-se. E isso mesmo é poder, à medida que é realização e, então, assim, impõe-se, impera, vige e vale. É força - esta força – concretizada. Vida é vontade de poder, quer dizer, deste nada, a partir do nada, movimento livre (gratuito, sem porquê, sem causa) de, para [zur] aparição e, então, assim, imposição, vigência-poder. Vida, enquanto e como vontade de poder, é a fala do extraordinário, do milagre que o grego experimentou como o elementar de ser-aparecer” (cf. Nietzsche, 2008: 11, grifado no texto). 
Em Maquiavel quando virtù e “fortuna” caminham juntas, o resultado é a vitória - como podemos observar nos exemplos históricos - em caso contrário, a derrota na politica. Exumada pelo interesse humanista na mitologia clássica, essa personificação das forças que desafiam e frustram os esforços humanos foi utilizada, muitas vezes, como um subterfúgio convencional para evitar “a invocação da vontade de Deus” na explicação dos fenômenos que pareciam racionalmente inexplicáveis, quer se tratasse de “um revés no amor ou no campo de batalha”. A ideia de “fortuna” em Maquiavel vem da “deusa romana da sorte” e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá.
Ela (pois tanto o substantivo “fortuna” quanto a personificação, “Fortuna”, eram femininos, refletindo a opinião dos homens e da lei de que as mulheres deviam ser identificadas com a irracionalidade) era invocada mais comumente num contexto político durante a incapacidade da Itália para fazer frente às sucessivas ondas de invasão estrangeira depois de 1494. Em Florença ocorreu um fato estranho. Um frade, de nome Savonarola, que comandava a cidade, previu-lhe uma invasão estrangeira em punição pelo seu gosto pelo luxo e lassidão. Carlos VIII não avançou sobre o lugar e tomou o caminho de Roma, aonde chegou a 31 de dezembro de 1494. Ali ele conseguiu prender o Príncipe Djem, filho do sultão turco Bajazet. Em seguida, a 22 de fevereiro de 1495, tomou posse de Nápoles, e passou a viver em um ambiente festivo em função de seus sucessos.
sou de parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna (oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (...) contrariá-la. Vê-se, que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia”.
Foi porque Maquiavel percebeu que qualquer conselho positivo para lidar com problemas políticos era suscetível de ser contrariado por uma alusão pessimista à fortuna, que ele resolveu dedicar a esse tema o penúltimo capítulo de Il Principe, livro escrito por Nicolau Maquiavel em 10 de dezembro de 1513, cuja 1ª edição foi publicada postumamente, em 1532. Ele próprio aceitou que a Fortuna era o árbitro de metade das ações dos homens, mas sublinhou que isso não deveria levar ao derrotismo. Em duas memoráveis imagens, comparou a fortuna a um rio cujas águas caudalosas podem ser inofensivamente desviadas por diques e canais de drenagem precavidos, e a uma mulher que, sendo mulher, pode ser domada pelo ardor e a violência.
Chegada a noite, retorno para casa e entro no meu escritório; na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de barro e lodo, visto roupas dignas de rei e da corte e, vestido assim condignamente, penetro nas antigas cortes dos homens do passado onde, por eles recebido amavelmente, nutro-me daquele alimento que é unicamente meu, para o qual eu nasci; não me envergonho ao falar com eles e perguntar-lhes das razões de suas ações. Eles por sua humanidade, me respondem, e eu não sinto durante quatro horas qualquer tédio, esqueço todas as aflições, não temo a pobreza, não me amedronta a morte: eu me integro inteiramente neles. E, porque Dante disse não haver ciência sem que seja retido o que foi apreendido, eu anotei aquilo de que, por sua conversação, fiz capital, e compus um opúsculo De Principatibus, onde me aprofundo o quanto posso nas cogitações deste assunto, discutindo o que é principado, de que espécies são, como são adquiridos, como se mantêm, porque são perdidos. Se alguma vez vos agradou alguma fantasia minha, esta não vos deveria desagradar; e um príncipe, principalmente um príncipe novo, deveria aceitar esse trabalho: por isso eu o dedico à magnificência de Juliano. Filippo Casavecchia o viu e vos poderá relatar mais ou menos como é e das conversas que tive com ele, se bem que frequentemente eu aumente e corrija o texto”.
A crescente sensibilidade da Igreja contra reformista à invocação de uma deusa pagã, em lugar da deferência para com a vontade de Deus, levou a Censura eclesiástica a eliminar as referências à Fortuna de uma obra tão inocente de intenções heréticas quanto Il cortegiano, de Castiglione Baldassare, tendo concluído sua educação formal na periferia da corte de Ludovico Sforza, então famosa acima de todas as outras por seu tom cavalheiresco e sua proteção a homens de saber.  Ou seja,
assegurar-se contra os inimigos, ganhar amigos, vencer por força ou por fraude, fazer-se amar a e temer pelo povo, ser seguido e respeitado pelos soldados, destruir os que podem ou devem causar dano, inovar com propostas novas as instituições antigas, ser severo e agradável, magnânimo e liberal, destruir a milícia infiel e criar uma nova, manter as amizades de reis e príncipes, de modo que lhe devam beneficiar com cortesia ou combater com respeito, não encontrará exemplos mais atuais do que as ações do duque”.
            Ludovico Sforza, o segundo e mais competente filho de Francesco Sforza, foi descrito como “o perfeito tipo de déspota” (Burckhardt), embora Maquiavel o depreciasse por erros de julgamento que o fizeram perder o ducado de Milão. Nenhuma biografia coetânea ou moderna existe dessa enigmática figura, apesar do seu importante papel nas calamitosas invasões francesas da Itália, e como um mecenas. Conhecido como “il Moro”, ou por ser muito moreno ou porque o segundo nome era Mauro, Ludovico recebeu uma educação humanista e fez ele próprio algumas tentativas como escritor (compôs as biografias de homens ilustres, incluindo o próprio pai). Excluído do poder após o assassinato de seu irmão, o duque Galeazzo Maria (1476), Ludovico desafiou sua cunhada Bona de Savóia e usurpou o poder ao filho dela, Giangaleazzo; após a morte deste (1494), ele assumiu o título de duque de Milão, confiante em suas boas relações com o imperador Maximiliano, que tinha casado com sua sobrinha Bianca Maria.    
            No que se refere à Itália, convencionou-se admitir como “cultura renascentista”, o período que vai da segunda geração do século XIV até à segunda ou terceira geração do século XVI. Durante o presente século, foi contestado principalmente com base nos seguintes pontos: (1) Um período histórico autossuficiente é coisa que não existe; (2) A arte e a literatura renascentistas não se desenvolveram tão sistematicamente que possam ser vistas num único e vasto relance de olhos vasariano; (3) Não existe uma verdadeira (e muito menos uniforme) congruência entre “cultura” e “história” durante o período; a cultura “renascentista” chegou tarde a Veneza, ainda mais tarde a Gênova, dois prósperos centros de atividade política e comercial; (4) Definir um período em termos de uma “elite cultural” é desviar a atenção, de um modo inaceitável, dos destinos da sociedade como um todo. Os primeiros estudos a respeito podem ser vistos em Domenico Berti, Giordano Bruno da Nola, sua vita e dottrina (1ª ed. 1868); Vicenzo Spampanato, Vita di Giordano Bruno (1921) de acordo com Hale (1988: 305 e ss).
A obra de Maquiavel relaciona-se in statu nascendi com o tempo no qual foi produzida (cf. Villari, 1920; Caristia, 1951; Sforza, 1951; Ferrara, 1952; Hole, 1963). O método analítico utilizado por ele rompe com a tradição medieval ao fundamentar-se no “empirismo e na análise lógica dos fatos históricos da Roma Antiga”. A primeira de suas missões foi a de convencer um condottiero a continuar recebendo o mesmo soldo. Nesse momento, o governo da República de Florença desejava reaver o controle de Pisa que havia aproveitado a passagem de Carlos VIII para rebelar-se, de forma que, ao realizar essa primeira missão de forma satisfatória, foi enviada em julho de 1499 para negociar com Catarina Sforza, duquesa de Ímola e Forlì a renovação da “condotta” de seu filho Otaviano e para tentar conseguir o auxílio dela com soldados e artilharia para a tomada de Pisa. O governo de Florença contratara o filho da duquesa por 15 mil ducados sabendo-o “mau estrategista militar” e Maquiavel tinha como instruções, diminuir o soldo e conseguir tropas e munição para a retomada de Pisa. Ele conseguiu de forma satisfatória reduzir o soldo a 12 mil ducados e não comprometeu a cidade na defesa de Ímola e Forlì como queria Catarina. A partir dessa primeira missão, escreveu o Discorso fatto al Magistrato dei Dieci sopra le cose di Pisa, de 1499, seu primeiro escrito político.
Pouco depois Luís XII, sucessor de Carlos VIII, conquistou o Ducado de Milão a Ludovico Sforza e, em troca de seu apoio, a República de Florença solicitou o auxílio deste na guerra contra a República de Pisa. Luís XII enviou um exército mercenário que se mostrou indisciplinado e desinteressado pela luta, tendo até mesmo prendido um comissário de Florença. Logo foi necessário enviar representantes à corte francesa em Nevers para relatar a situação e encontrar uma solução sem, entretanto, irritar o rei. Para isso, foram enviados Francisco della Casa e Maquiavel. Pouco antes de ir, seu pai morreu e ficou só com o irmão Totto, que em breve se dedicaria à vida eclesiástica, pois as duas irmãs já haviam se casado.
Aos dois, o rei respondeu que parte da culpa pelo fracasso era de Florença e inclusive insistiu para que o ataque a Pisa continuasse à custa da cidade para reparar a honra do rei. Sem poderes para negociar, Maquiavel limitou-se a aconselhar a Senhoria durante o período em que acompanhou a corte através de França e a solicitar o envio de embaixadores que pudessem tratar destes assuntos com mais autoridade. Aí pôde conhecer um pouco mais sobre uma nação que se havia unificado em torno de um rei, diferentemente da Itália. Depois de mais duas viagens à França anos depois, reuniria suas observações sobre a política francesa em dois textos: “Ritrati delle cose di Francia” e “De natura gallorum” (1510).
De volta à cidade, casou-se com Marietta Corsini, com quem tivera quatro filhos e duas filhas (Bernardo, Ludovico, Piero, Guido, Bartolomea e outra menina morta na primeira infância), mas teve logo que viajar de novo, pois os, partidos políticos de Pistoia outra cidade submetida à Florença, haviam se unido e ameaçavam rebelar-se. Historicamente a maior parte do poder em Florença estava então nas mãos dos guelfos - opositores do poder imperial. Mas o partido em pouco tempo se dividiu em duas facções. A causa foi novamente uma rixa entre famílias, desta vez, importada da cidade de Pistóia. Os Cancellieri eram uma grande família de Pistóia, descendentes de um mesmo pai que tivera, durante sua vida, duas esposas. A família Cancellieri se dividiu quando um membro desajustado da família assassinou o tio e cortou a mão do primo. Os descendentes da primeira esposa dos Cancellieri, que se chamava Bianca, decidiram se apelidar de Bianchi.
Os rivais, que defendiam o jovem assassino, se apelidaram de Neri (negros) em espírito de oposição. A briga tomou conta de Pistóia e a cidade acabou sofrendo intervenção de Florença, que levou presos os líderes dos grupos rivais. Mas as famílias de Florença não demoraram a tomar partido e, por causa de uma briga de rua, a divisão se espalhou pela cidade, dividindo os guelfos em negros e brancos. Depois de criados, os partidos assumiram posições políticas. Os guelfos brancos, moderados, respeitavam o papado, mas se opunham à sua interferência na política da cidade. Já os guelfos negros, mais radicais, defendiam o apoio do papa contra as ambições do imperador, que era apoiado pelos guibelinos. Maquiavel foi de opinião que se deveria dar fim e proibir tais partidos. Além disso, ele foi o primeiro a propor uma ética para a política diferente da ética religiosa, ou seja, a finalidade da política seria a manutenção do Estado. Sua obra Il Principe foi lida pelo cardeal inglês Reginald Pole, se dizendo “horrorizado com a influência que ela teve sobre Thomas Cromwell”.
As fogueiras da Santa Inquisição se tornaram mais ardentes entre os séculos XIV e XV e a loucura passou a ser um dos seus combustíveis prediletos, como é visto magistralmente no filme Giordano Bruno (Direção de Giuliano Montaldo, Itália, 1973) ou também Giordano Bruno (idem, ITA, 1973, 123 min. Original em italiano com legendas em francês) onde o filósofo, astrônomo e matemático Giordano Bruno, desenvolve sua teoria do universo infinito e da multiplicidade dos mundos, em oposição à tradição geocêntrica (a Terra como centro do universo), sendo por isso “queimado vivo por ordem da Inquisição em fevereiro de 1600”. Impressionante reconstituição fílmica da vida de um grande precursor da ciência moderna, autêntica até no detalhe da mordaça de ferro que perfurou a língua de Bruno, para que, no caminho até o cadafalso, não proferisse nenhuma blasfêmia. O filme de Guiliano Montaldo retrata o processo romano, no qual Giordano Bruno recusou qualquer retratação, sendo condenado e queimado vivo no ano de 1600.
Depois de muitos séculos de repressão, particularmente sexual, a Idade Média se transformou numa fábrica de loucos. Já não era mais possível, por exemplo, conter os padres que, reprimidos sexualmente pelo celibato, mantinham encontros com freiras através de esquemas clandestinos que “incluíam túneis subterrâneos ligando conventos entre si”. Cidadãos se organizavam para protegerem suas filhas. Para tanto, enviam prostitutas aos mosteiros. O movimento anti-erótico do medievalismo teve como objeto a figura da mulher, que representava um determinado tipo de estímulo que ameaçavam os guardiões do status quo. Os jesuítas acusaram-no de “ser contra a Igreja” tal como ocorrera a Bruno de Nola ou Nolano e convenceram o Papa Paulo IV a colocá-lo no Index Librorum Prohibitorum em 1559.
Giordano Bruno (1548-1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano condenado à morte, por heresia, na fogueira pela Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício - vulgarmente conhecida como Inquisição romana. Porém, como nos referíamos logo em seguida, o Padre Luchesini escreveria um ensaio intitulado: Saggio sulle sciocchezze di Machiavelli. Eduard Meyer, examinando a literatura Elisabeteana do século XVII, contou nada menos que trezentos e noventa e cinco referências feitas a Maquiavel sempre com sentido pejorativo: crime, covardia, brutalidade, etc. “Ele era o causador de todos os males, o autor de todas as desgraças”. Na Inglaterra chegaram a afirmar que o nome dado ao diabo procedia do seu nome, pois, “Maquiavel precisa de um truque para dar seu nome ao nosso velho apelido” (“Nick Machiavel hed neer a trick. Tho gove his name to our old Nick”).
Monumento erguido em 1889 por círculos maçônicos italianos, no local onde Giordano Bruno fora executado. Campo de Fiori, Roma, Itália. Bronze por Ettore Ferrari.
Geralmente, acredita-se que a Inquisição é uma instituição eclesiástica. Mas, na realidade, seu aspecto eclesiástico era mínimo. Quase ninguém fora da instituição sabia que os inquisidores eram nomeados pelo rei. Diretamente a Inquisição funcionou mais ou menos como uma “polícia política” de nossos tempos. A Inquisição funcionou muitas vezes como um tribunal inteiramente politizado. A Inquisição era inimiga dos grupos burgueses e “pré-burgueses” na transição para o capitalismo. E a Inquisição foi decisiva para que na Península Ibérica não amadurecesse uma consciência burguesa, por muito tempo. Foi nesse clima que Nicolau Maquiavel ofertou O Príncipe a Lourenço de Médicis; que Lutero promoveu a Reforma religiosa; que Copérnico demonstrou a Terra em rotação sobre seu eixo e os planetas girando em torno do Sol, não é o centro do universo e que Johannes Weyer publicou, após anos de estudo, o seu De praestigiis daemonum.           
Na França, o huguenote Innocent Gentillet escreveu uma obra na qual o acusou de “ateísmo” e, seus métodos, de “causadores” do Massacre da noite de São Bartolomeu. Esta obra foi muito difundida na Inglaterra, contribuindo para a visão apresentada no teatro do século XVI. No cinema o filme “A Rainha Margot” (“La Reine Margot”. ALE/FRA/ITA/94, direção: Patrice Chéreau), retrata a França em 1572, quando do casamento da católica Marguerite de Valois e o protestante Henri de Navarre, que procurava minimizar as disputas religiosas, mas acaba servindo de estopim para um violento massacre de protestantes conhecido como a “noite de São Bartolomeu”, que teve a conivência do rei da França Carlos IX, irmão de Margot. O filme, que retrata esse trágico acontecimento, é baseado no romance de Alexandre Dumas, A Rainha Margot (1845).
                                           
            Pouco se conhece da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida pública (cf. Ridolfi, 2003; 2012; White, 2007; King, 2010). Ele era o terceiro de quatro filhos de Bernardo e Bartolomea de` Nelli. Sua família era toscana, antiga e empobrecida. Iniciou seus estudos de latim com sete anos e, posteriormente, estudou também o ábaco, bem como os fundamentos da língua grega antiga. Comparada com a de outros humanistas sua educação foi relativamente fraca, principalmente por causa dos poucos recursos materiais e financeiros da família. Não se sabe ao certo o que teria levado à escolha de Maquiavel para a chancelaria em 19 de junho de 1498. Alguns autores afirmam que ele teria trabalhado aí como auxiliar em 1494 ou 1495, hipótese contestada atualmente.
Outros preferem atribuir a sua entrada à escolha e camaradagem de um antigo professor seu, Marcelo Virgilio Adriani, o qual ele teria conhecido em aulas na Universidade Pública de Florença e naquele momento era Secretário da Primeira Chancelaria. Mas Ross King (2010) resgata a imagem de Maquiavel da caricatura, descrevendo em detalhes o vibrante contexto político e social que influenciou seu pensamento, e ressalta a humanidade de um dos mais importantes filósofos políticos da história social e política. Além disso, Maquiavel de Ross King frequenta astrólogos, produz vinho, percorre a Europa a cavalo como diplomata, e é um estudioso apaixonado da Antiguidade - mas, sobretudo, “um observador perspicaz da natureza humana”.
Em 7 de novembro de 1512, Maquiavel foi demitido sob a acusação de ser um dos responsáveis por uma política anti-Médici e grande colaborador do governo anterior. Foi multado em mil florins de ouro e proibido de se retirar da Toscana durante um ano. Para piorar sua situação, no ano seguinte dois jovens, Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram presos e acusados de conspirarem contra o governo. Um deles deixou cair involuntariamente uma lista de possíveis adeptos do movimento republicano, entre os quais estava o de Maquiavel, que foi preso e torturado. Para sua sorte, com a morte do papa Júlio (1513) e a eleição de João de Médici, um florentino, como Leão X, todos os suspeitos de conspiração foram anistiados como sinal de regozijo e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias na prisão. Em reconhecida referência:
Num dia de dezembro de 1513, um homem escreve a um amigo. Está no campo, banido. Foi preso e torturado. Mas não se queixa. Conta que passa o dia com os camponeses, gritando, jogando. À noite, porém, troca de roupa. Veste os melhores trajes. Lê os autores antigos e, espanto!, dialoga com eles. Ouve suas opiniões, suas ideias. (Essa passagem é sempre citada, quando se quer explicar a Renascença). Quase no final, informa que gastou algumas semanas escrevendo um livrinho, De principatibus (Dos principados), ´onde me aprofundo tanto quanto posso nas cogitações desse tema...`” (cf. Ribeiro, 2004).
            Apesar do abatimento e do aparente vexame por ter sido supliciado ele não se deprimiu por muito tempo. Como escreveu ao seu amigo, o embaixador Francisco Vettori (carta de 10/12/1513), com quem mantinha ativa correspondência, decidiu-se por abraçar profundamente às letras. Ele frequentara as potências do seu tempo, conhecera monarcas poderosos, arcebispos, cardeais e o próprio papa, além de um número significativo de tiranos e de condottiere, capitães-de-aventura, como se chamavam os chefes mercenários. Vira de perto a ascensão e queda de muitos deles. Como por igual apreciava os letrados, tais como o historiador Francisco Guicciardini, seu amigo, e um dos maiores escritores políticos da sua época, ninguém melhor do que ele para associar a prática à teoria.            
          Depois de passar o dia convivendo com os aldeãos e os frequentadores da taverna, à noite Maquiavel, trajando-se com boas roupas, recolhia-se para a sua biblioteca para “encontrar-se com os grandes” pensadores, isto é, pôr-se a ler os autores clássicos: Tucídides, Cícero, Júlio César, Tácito, Tito Lívio, e tantos outros mais, imaginando dialogar com eles todos. Portanto, sua obra política resultou dessa simbiose entre o empírico a partir da experiência como diplomata e o conhecimento histórico acumulado, a partir da leitura dos livros da política greco-romana. Na construção dele do “cosmo político”, na falta de melhor expressão, Deus estava banido, pois o que ele quis retratar era o “império dos homens”, um cenário mais próximo da selva do que dos espaços divinos.
Libertado, seguiu para uma propriedade em “Sant`Andrea in Percussina” distante 7 km de San Casciano. Foi durante esse ostracismo e inatividade, o qual duraria até sua morte, que ele escreveu suas obras mais conhecidas: “Il Principe” e os “Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio” (1512-1517), em 3 volumes. Foi também nesse período que conheceu vários escritores no Jardim Rucellai, círculo de literatos. Cosimo Rucellai falecera 25 anos antes, em 1519. Maquiavel dedicou os Discorsi... a ele e a Zanobi Buondelmonti, a quem se referirá mais adiante e se aproximou de Francesco Guicciardini apesar de já conhecê-lo há tempos. Entre os escritos desse período estão o poema “Asino d`oro” (1517), a peça “A Mandrágora” (1518), considerada uma obra prima da comédia italiana, e “Novella di Belfagor” (romance, 1515), além de vários tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular (organizada pelos descendentes) como “Dialogo intorno alla nostra língua” (1514), “Andria” (1517), “Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze” (1520), “Sommario delle cose della citta di Lucca” (1520), “Discorso delle cose florentine dopo la morte di Lorenzo” (1520), “Clizia”, comédia em prosa (1525), “Frammenti storici” (1525) e outros poemas como “Sonetti”, “Canzoni”, “Ottave”, e “Canti carnascialeschi”.
Em geral seus críticos se basearam em Il Principe, analisando-a isoladamente das demais obras de Maquiavel e sem levar em conta o contexto histórico e social no qual foi produzida. Maquiavel escreve história mais como pensador político do que como historiador. Isto é importante e evidencia sua singularidade como pensador. Não se preocupa tanto com a referência precisa de afirmações contidas nas suas obras, mal comparando, tal como o filósofo Michel Foucault em nossos dias, ainda que tenha ido aos arquivos de Florença - prática incomum na época. Deixa transparecer nas suas obras históricas a defesa de algumas das suas ideias através da narração dos fatos históricos. Ele também acredita que a história se repete, tornando a sua escrita útil como exemplo para que os homens, tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer os mesmos erros. Assim, enquanto alguns dos seus biógrafos atribuem-lhe os fundamentos da escrita moderna da história, outros admitem que ele não possua uma visão crítica o suficiente para poder separar os fatos históricos dos mitos e aceitou como verdade, por exemplo, a fundação mitológica de Roma, outros ainda, de forma vulgar atribuem-lhe uma “concepção dogmática e ingénua da história”, o que dispensa-nos comentários.
                                           
          Edição de 1550 de “O Príncipe” e de “A vida de Castruccio Castracani da Lucca”.
Metodologicamente falando, virtù é justamente a capacidade do indivíduo de controle das ocasiões e acontecimentos, ou seja, da “fortuna”. O político com grande virtù vê justamente na fortuna a possibilidade da construção de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma determinada circunstancia, percebendo seus limites e explorando as possibilidades perante os mesmos. A virtù está sempre analisando a “fortuna” e, portanto, não existe em abstrato, não existe uma fórmula, ela varia de acordo com a situação determinada. Pois, os fins justificam os meios dentro de uma determinada conjuntura política que sofre influência de outras dimensões como a social, a econômica e a moral e cabe ao político com as suas capacidades de análise e de estratégia achar um meio mediante o qual essa conjuntura para realização de um determinado fim.
No livro O Príncipe, cap. 25. “Quanto pode a fortuna influenciar as coisas humanas e como se pode resistir a ela”, em que Maquiavel explica esses conceitos, ele fala sobre a crença que há em sua época em um “determinismo divino”, o desenvolvimento dos mesmos se opõe a esse determinismo, porém devemos cuidar, pois assim como a fortuna não é determinada e fatalista, mas sim muda de acordo com a conjuntura, a virtù não o simples livre arbítrio, mas sim a escolha certa na hora certa. Os “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, de 1513 a 1521, opõem-se a “O Príncipe” pelo tema, apesar de ambos compartilharem alguns conceitos.
Nos Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio, Maquiavel defende a forma de governo republicana com uma constituição mista, de acordo com o modelo da República de Roma Antiga. Defende também a necessidade de uma cultura política sem corrupção, pautada por princípios morais e éticos. Foram pensados como análise e comentário a toda a obra de Tito Lívio, mas permaneceram incompletos, não passando da primeira década. Esta obra surgiu da vontade do autor de comparar as instituições da Antiguidade, em especial às da Roma clássica, com as de Florença no período. Assim, seguindo a obra de Tito Lívio, analisa como surgem, se mantém e se extinguem os Estados. Ficou assim dividido em três partes, estudando na primeira a fundação e a organização, em seguida o enriquecimento e a expansão e por fim sua decadência.
Para o que nos interessa, a ética em Maquiavel se contrapõe à ética cristã herdada por ele da Idade Média. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica. Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico e fundamento de sua atualidade, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la má.
Para ele, a “natureza humana” seria “essencialmente má” e os seres humanos querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso, contrariando Thomas Hobbes, para quem a “condição da natureza humana e as leis divinas exigem um cumprimento inviolável”, ou, John Locke, “dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem”. De acordo com o conceito aceito pela ciência moderna, “natureza humana” é a parte do comportamento humano que se acredita que seja normal e/ou invariável através de longos períodos de tempo e de contextos culturais dos mais variados. Assim a chamada “natureza humana” também não se alteraria ao longo da história fazendo com que seus contemporâneos agissem da mesma maneira que os antigos romanos e que a história dessa e de outras civilizações servissem de exemplo. Falta-lhe quiçá um senso das mudanças históricas. Como consequência acha inútil imaginar Estados utópicos, visto que nunca antes postos em prática e prefere pensar no real concreto.
Todavia sem querer com isso dizer que os seres humanos ajam sempre de “forma má”, pois isso causaria o fim da sociedade, baseada em um acordo entre os cidadãos. Enfim, ele quer dizer que o governante não pode esperar o melhor dos homens ou que estes ajam segundo o que se espera deles. Talvez isto signifique o seguinte: na Idade Média, o quadro moral dava conta do lugar tanto do príncipe quanto do súdito, que deviam ambos obedecer à religião. Em tese, bastava isso para fazer um bom rei ou um fiel cristão. Maquiavel mostra que o príncipe não está mais submetido - nem protegido - por esse quadro. É essa insegurança que lhe dá liberdade. Ninguém é livre sem ansiedade.
Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram sua obra, mas um número consideravelmente maior de pessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos que aí tem sua origem. “Maquiavélico e maquiavelismo” (cf. Bath, 1992; Abrahão, 2009; Nietzsche, 2008: 385 e ss.) são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político (cf. King, 2010), quanto na fala do dia-a-dia (cf. Cortina, 2000). Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções, porém, o “maquiavelismo” está associado à ideia de perfídia, a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. Estas expressões pejorativas sobreviveram de certa forma, incólumes no tempo e no espaço, apenas alastrando-se do campo luta política para as desavenças dos níveis mais elementares de nosso cotidiano.
Em verdade,
o manuscrito passou inteiramente despercebido durante a vida do seu autor. Publicado por seus filhos em forma de livro anos após a sua morte, a rejeição a O Príncipe logo nasceu e cresceu. Rejeição que marcou a trajetória do livro durante séculos e que tendo o maquiavelismo como centro produziu muita condenação e pouca luz. De modo geral, lido de má-fé, sem método ou simplesmente citado sem ao menos ter sido consultado, O Príncipe transformou-se num símbolo da trapaça, o número um da galeria dos livros malditos” (cf. Alves Filho, 1976; 2009).
Maquiavel venceu, Maquiavel está vivo. Pois nem depois de morto, Maquiavel terá descanso. Foi posto no Index pelo concílio de Trento, o que o levou, desde então a ser objeto de excreção dos moralistas. Realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecuménico. É considerado um dos três concílios fundamentais na Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e a reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da Contra-Reforma. Os Príncipes mudaram, mas não de alma, gesto, corpo e pensamento. Mudaram a mistura usada em pintura, pois hoje alguns usam batom, mas continuam Príncipes, de alma e coração.
Por fim, resta-nos do ponto de vista da analise comparada a inspiração de Maquiavel sobre a perspectiva do italiano marxista Antônio Gramsci a qual se refere à “dupla perspectiva” na ação política, correspondente à natureza dúplice do Centauro maquiavélico, ferina e humana, da força e do consenso, da autoridade e da hegemonia, da violência e da civilidade, do momento individual e daquele universal (da “Igreja” e do “Estado”), da agitação e da propaganda, da tática e da estratégia, etc. Não é difícil perceber até que ponto esta proposição é utilizada por A. Gramsci para fundar a relação entre violência e consenso que constrói o conceito de hegemonia, uma das chaves do seu complexo discurso sobre a política.
O primeiro se move na “realidade efetiva”, porque sua atividade não tende a gerar novos equilíbrios, mas a conservá-los. O segundo, representado por Maquiavel, quer, por definição, criar novas relações de força e, portanto, deve ocupar-se do “dever ser”. Mas, do ponto de vista da análise de conjuntura de Antônio Gramsci (cf. 1975; 1991; 2000; 2002), em que propugna uma “revolução cultural”, uma luta ideológica, a questão não deveria ser formulada nestes termos antagônicos: trata-se de analisar se o “dever ser” é um ato arbitrário ou um ato necessário. É certo que o político não deve mover-se só na “realidade efetiva”, mas também no “dever ser” que orienta a ação sobre a mudança da sociedade. Mas haveria duas formas deste “dever ser”: uma, a abstrata e difusa do frade Savonarola, o “profeta desarmado”, e outra, a realista de Maquiavel, nem determinista nem voluntarista, mas definida como interpretação objetiva e como indicadora de linhas de ação, embora não se tenha transformado em realidade imediata.
E A. Gramsci, com a graça da admiração, culmina sua análise com algumas palavras sobre o limite e a estreiteza de Maquiavel que consistem apenas no fato de ter sido ele uma “pessoa privada”, um escritor, e não o chefe de um Estado ou de um exército, que é também uma pessoa singular, mas tem à sua disposição as forças de um Estado ou de um exército, e não somente “exércitos de palavras”. Nem por isso se pode dizer que Maquiavel tenha sido também ele um “profeta desarmado”. Maquiavel metodologicamente, jamais diz que “pensa em”, ou se propõe “ele mesmo”, mudar a realidade concreta, mas visa apenas e singularmente demonstrar como deveriam operar as forças históricas e sociais para se tornarem eficientes, vívidas, depois de mais de quatro séculos que nos separam da época em que viveu Niccolò di Bernardo dei Machiavelli.
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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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