quinta-feira, 17 de novembro de 2011

“Pelo olhar da dor” - o estado social da República das Filipinas.


                       
                                                                                                              Ubiracy de Souza Braga*
                        Por meio da história de duas avós, o cineasta Brillhante Mendoza mostra a dor do povo filipino (2009).

As Filipinas, oficialmente República das Filipinas (em Filipino: Repúbliká ng̃ Pilipinas), são um vasto arquipélago da Insulíndia delimitado pelo Mar das Filipinas a leste, Mar de Célebes e Mar de Sulu a sul e Mar da China Meridional a oeste. O Estreito de Luzon, a norte, separa as Filipinas de Taiwan, o Estreito de Balabac, a sudoeste, é uma das fronteiras marítimas com a Malásia, e há também fronteira marítima com a Indonésia, a sul. Também Palau se situa nas imediações, para sudeste. A sua capital é Manila. O nome oficial do país é República das Filipinas, Repúbliká ng̃ Pilipinas. Ao contrário dos demais países da Ásia, as Filipinas são um país maioritariamente cristão.
Muitos historiadores acreditam que as Filipinas foram colonizadas no Paleolítico, quando “um povo asiático atravessou por meio de embarcações de madeira o caminho que leva à região”. Descobertas mais recentes parecem indicar que as ilhas podem ter sido habitadas desde a era pleistocênica. A primeira grande corrente migratória chegou a essa região através do sul. Acredita-se que esses imigrantes eram de origem indonésio-caucasiana, possuindo um grau de civilização “mais adiantado” que as tribos nativas. Posteriormente, ocorreram mais duas grandes correntes migratórias. Cada  nova  corrente
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

sucessivamente impeliu os habitantes originais ou nativos a procurarem terra ao norte. A corrente migratória seguinte, cujo apogeu se deu no século XIV, veio do reino madjapahit e trouxe consigo a religião muçulmana.
            A unidade social básica nas Filipinas é tradicionalmente à família, base de tudo, frequentemente que inclui os avós e outros parentes. Em casas tradicionais, homens são “as cabeças das casas” e são responsáveis para o bem estar financeiro da família. Porém, não são restringidas as mulheres criar as crianças, elas trabalham frequentemente fora da casa. As mulheres Filipinas trabalham em uma grande variedade de ocupações e dirigem seus próprios negócios. Crianças Filipinas aprendem cedo a cuidar das suas funções na família deles. Eles aprendem que eles devem, em troca, cumprir suas obrigações perante a família. Como crianças, as responsabilidades deles incluem “respeito aos anciões, ao cuidado de irmãos mais jovens, o desempenho de tarefas domésticas, e comportamento que trará honra para a família”.
            A República das Filipinas é a única nação predominantemente Cristã na Ásia e tem uma herança sem igual de culturas malaias, espanholas, e americanas. O Islã e Budismo são as religiões dominantes da região.  Por outro lado, a herança espanhola é visível em outras características de vida nacional. Por exemplo, aproximadamente 85% da população são católicos romanos; há predominância de nomes de lugares e nomes de família espanhóis. Aproximadamente 3% pertencem a denominações protestantes trazidas para as ilhas por missionários durante a era de regra americana. Duas denominações Cristãs de origem local também emergiram: Ni de Iglesia Cristo (Tagalog para “Igreja de Cristo”) e o Aglipayan ou “Igreja Independente Filipina”. As contas de grupos anteriores para quase 1.5% da população, e a Independente, 4%. A Igreja Independente Filipina nasceu em 1888, ideologicamente falando, “como um protesto contra dominação da Igreja católica romana através de clero espanhol”. Não obstantes, permaneceram católicos na prática. Ni de Iglesia Cristo foi fundado em 1914 e hoje é um “de perto tricote e seita muito nacionalista”. Seu distintivo pode ser achado em edifícios de grandes igrejas modernas, caiados por toda parte nas cidades grandes das ilhas Filipinas. Sem dúvida o maior está em Cidade de Quezon perto da Universidade do campus de Filipinas.
Este edifício também aloja a sede internacional da denominação. O Islã apareceu primeiro nas Filipinas meridional no século XIII ou XIV. Os primeiros muçulmanos para chegar provavelmente eram os comerciantes do Oriente Médio ou de áreas vizinhas do que é hoje a Indonésia e a Malásia. Uma história longa de estrondos entre os espanhóis mais poderosos e numerosos e os muçulmanos impediram o Islã de estender sua influência nas ilhas centrais do norte. Não obstante, nem os espanhóis, os americanos, nem os Filipinos cristãos poderiam desalojar os muçulmanos da pátria deles em Mindanao e o Arquipélago de Sulu. Muçulmanos fazem agora para cima aproximadamente 4% da população. Os budistas e outras religiões respondem por 2% da população.
                 
Alunos andam nus para festejar aniversário de 107 anos de universidade filipina.
O modo do pensamento histórico é o do sempre possível presente na narração (cf. Braga, 2011) da hipotipose do passado. Não deriva a “compreensão” em história do fato de que eu posso sempre moldar a minha reflexão presente e a trama da minha meditação pela lógica das décadas passadas? A analogia ou a homologia muda simplesmente de nome e chama-se aqui “método comparativo”, daí a intenção de compreender o estado social da República das Filipinas. Pois, é pelo presente da narração que se reconhece a estrutura histórica. Todavia, a repetição cíclica das antíteses pelo artifício da hipotipose não chega a caracterizar a estrutura. O imaginário quer ainda mais que um presente da narração, a compreensão exige que os contraditórios sejam pensados, ao mesmo tempo e sob a mesma relação, numa síntese.  Foi sobre esse fator que o Hegel de 1807, insistiu, e Marx configurou em sua essência, nos casos históricos em que se debruçou. Enfim, todo “protótipo representativo” do estudo histórico parte sempre de um esforço sintético para manter ao mesmo tempo na consciência termos antitéticos.
Historicamente, Fernão de Magalhães, um navegador português a serviço do Rei de Espanha, descobriu as ilhas no século XVI, introduzindo-as ao cristianismo. Os espanhóis estabeleceram sua capital em Manila a partir de 1571, garantindo seu domínio por mais de trezentos anos. O herói nacional das Filipinas, o linguista, escritor, artista, médico e cientista José Rizal iniciou um movimento reformista. Ao mesmo tempo, uma sociedade secreta chamada Katipunan, “chefiada por Andrés Bonifácio, começou a revolução social, dando aos conquistadores espanhóis a desculpa que precisavam executar Rizal, que se encontrava em exílio em Dapitan, Mindanao (sul do país)”.  Ele foi trazido a Manila para julgamento e condenado à morte, embora não se tenha prova de sua participação na revolta. Sua morte, porém, estimulou ainda mais essa revolução, levando o General Emílio Aguinaldo a declarar no dia 12 de Junho de 1898 a Independência do país e proclamar a primeira Repúbliká ng̃ Pilipinas.
                      Linguista, escritor, artista, médico e cientista José Rizal (1861-1896). 
            José Protasio Rizal Mercado y Alonso Realonda (1861-1896), foi um nacionalista filipino, o mais proeminente defensor de reformas nas Filipinas durante o período colonial espanhol e de sua eventual Independência da Espanha. José Rizal foi porta-estandarte da Guerra da Independência das Filipinas. Pertencente a uma família rica de plantadores de ascendência chinesa, nasceu em 1861 e estudou medicina em Madrid. Foi aí que começou a luta pela Independência, que acabou a 30 de Dezembro de 1896, com o seu fuzilamento. No lugar onde foi fuzilado, ao lado das muralhas do Forte Santiago, situa-se um dos maiores parques da Ásia, o parque Rizal, “dedicado a ele em 1913, que é o pulmão da cidade e que conta com uma estátua de 15 metros de altura, erguida junto ao seu túmulo”.
Naquele mesmo ano, a plutocracia dos Estados Unidos adquiriram as Filipinas através do Tratado de Paris, levando o país a ser dominado politicamente por 48 anos. Após uma guerra por sua Independência que durou cerca de três anos, houve outra pelo mesmo motivo que durou cerca de quatro anos. Contudo, as Filipinas lutaram junto à bandeira americana contra o Japão na Segunda Guerra Mundial. A heroica batalha em Bataan ajudou a impedir o avanço das tropas japonesas em direção à Austrália. Após um breve período como um protetorado americano, os Estados Unidos tentaram mudar em 1946 o dia da Independência das Filipinas para “4 de julho”, dia da Independência dos Estados Unidos. Os americanos quiseram que os filipinos acreditassem que os Estados Unidos já tinham dado a Independência filipina, mas a história não mudou. As Filipinas já tinham mobilizado sua luta política pela Independência antes que os americanos chegassem ao país e assim os americanos apresentaram sua versão de Independência como “metrópole de força”, para lembrarmo-nos da expressão de Saddam Hussein. Os filipinos atualmente celebram sua data da Independência no dia 12 de junho. As Filipinas tiveram suas primeiras eleições automatizadas dia 10 de maio de 2010.
Ferdinand Emmanuel Edralín Marcos (1917-1989) foi um político e advogado filipino, presidente de seu país de 1965 a 1986. Casado com Imelda Marcos, ex-vencedora de concurso de beleza nas Filipinas, que também ficou conhecida por sua grande coleção de sapatos. Foi eleito para a Câmara dos Representantes, em 1949, e para o Senado em 1959. Depois de ter perdido as eleições presidenciais como candidato do Partido Liberal em 1964, veio a ser eleito presidente como candidato do Partido Nacionalista ainda em 1964, sendo reeleito em 1969 e ainda em 1981. Durante o seu governo realizaram-se reformas econômicas e sociais, assim como elaborou uma nova Constituição em que atribuía mais poderes à Presidência. A forte oposição levou-o a prender os seus líderes opositores e a instaurar a lei marcial, iniciando uma guerra de guerrilha pelos maoístas e separatistas muçulmanos. Levantou a lei marcial em 1981, mas, no entanto, a corrupção do Governo aumentou, bem como a pobreza e a guerrilha.
Meu leitmotiv ao estudar literatura e história, tem me fascinado pelos paralelos que existe entre a vida e a obra dos personagens da história política mundial contemporânea, mas fora dos biografismos como se têm constituído. Refiro-me, neste caso, a José Rizal Alonso (1861-1896) e José Martí Pérez (1853-1895), heróis respectivamente da Independência das Ilhas Filipinas e de Cuba. Eles também se dedicaram como heróis nacionais de seus respectivos povos e inspirado, em seguida, o patriotismo e o progresso de seus compatriotas. Melhor dizendo,
Martí cayó en la batalla de Dos Ríos, en 1895, luchando contra las tropas colonialistas españolas, mientras que José Rizal fue fusilado en 1896 por las tropas colonialistas españolas que ocupaban las islas Filipinas. En consecuencia, no podían ser más coetáneos, aunque José Martí nació ocho años antes que José Rizal”.
Geralmente, os artigos são publicados em comemoração ao desastre de 1898 tendo como escopo as questões hispano-cubana, relegando a questão da perda das Filipinas para a Espanha. No entanto, por causa de seus recursos de tamanho da população, e natural, o arquipélago das Filipinas para a Espanha poderia ter representado uma importante posse colonial de Cuba e Porto Rico. No entanto, a oligarquia espanhola nas Filipinas cometera erros semelhantes aos feitos pelo Mar do Caribe.
            Conhecer a verdade é “ver com os olhos da alma”, ou, com os “olhos da inteligência” no sentido acadêmico. Assim como o Sol dá sua luz aos olhos e às coisas para que haja “mundo visível”, assim também a ideia suprema, a ideia de todas as ideias, o Bem (isto é, a perfeição em si mesma) dá à alma e às ideias sua bondade (sua perfeição) para que haja “mundo inteligível”. Assim como os olhos e as coisas participam da luz, assim também a alma e as ideias participam da bondade (ou perfeição) e é por isso que a alma pode conhecer as ideias. E assim como a visão é passividade e atividade do olho, assim também o conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade, porque a alma precisa receber a ação das ideias para poder contemplá-las; atividade, porque essa recepção e contemplação constituem a própria natureza da alma. Assim como na treva não há visibilidade, assim também na ignorância não há verdade. A e a são para a alma o que a cegueira é para os olhos e a escuridão é para as coisas: são privações (privação de visão e privação de conhecimento), como tem ocorrido no estado do Ceará. As elites estão emburrecendo, “dando tiros nos próprios pés”, para lembramos expressão da filósofa Marilena de Souza Chauí quando deu um puxão de orelhas no scholar Fernando Henrique Cardoso, mas que não trataremos agora.
            O Filipino, idioma nacional das Filipinas, está baseado no idioma de Tagalog. O Inglês que foi ensinado cedo nas ilhas desde a conquista americana é o segundo idioma mais comum, estes são os dois idiomas oficiais do país. São ensinados ambos os idiomas nas escolas, embora o inglês permanecesse o médio primário de instrução. Regido pela Espanha durante quase 330 anos até 1898. Porém, inversamente proporcional, o idioma espanhol é falado por menos que 1% da população, apesar do regime colonial longo da Espanha. A influência colonial americana prevaleceu de aproximadamente 1901 até 1940. Naquele período havia um sistema educacional americano e, com isto, o inglês falado hoje é considerado como um segundo idioma. Aproximadamente dois quintos da população falam o inglês junto com o Filipino, idioma derivado do Tagalog, repetimos. O inglês é um dos dois idiomas oficiais. As Filipinas, como o Sudeste asiático, geralmente tem na diversidade a “maquiagem étnica e linguística”, na falta de melhor expressão. Existem aproximadamente 90 idiomas indígenas e dialetos. Só oito destes idiomas têm mais de 1 milhão de locutores cada.
            Enfim, as Filipinas já reconheceram o fato de que os Estados Unidos travaram uma guerra de agressão contra os filipinos, e realmente comemoram batalhas, contra soldados dos EUA, fazendo heróis os soldados filipinos. Nas Filipinas lembra-se também dos massacres de civis filipinos por soldados dos EUA. A Comissão Histórica Nacional das Filipinas faz parte do governo das Filipinas. Sua missão é “a promoção da história das Filipinas e do património cultural através da investigação, conservação, gestão, divulgação de sites e obras de heráldica”. A Comissão nos dias de hoje foi criada em 1972, como parte da reorganização do governo após declaração da lei marcial pelo presidente Ferdinand Marcos, mas as raízes do instituto são de 1933.
            Um verdadeiro teste para a hipótese psicossocial da memória, afirma Eclea Bosi,
“encontra-se no estudo das lembranças das pessoas idosas. Nelas é possível verificar uma história social bem desenvolvida: elas já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e conhecidas; elas já viveram quadros de referência familiar e culturais igualmente reconhecíveis: enfim, sua memória atual pode ser um pano de fundo mais definido do que a memória de uma pessoa jovem, ou mesmo adulta, que, de algum modo, ainda está absorvida nas lutas e contradições de um presente que a solicita muito mais intensamente do que a uma pessoa de idade (Bosi, 1979, pp. 60 e ss.).
            Antes de ser apenas mais um olhar lamentável da realidade de um país, “Lola” é a louvação de um povo. Lola, na língua filipina, quer dizer avó. E essas avós, Sepa e Puring, expressam a dor e o sentimento dessas mulheres idosas na idade, mas lúcidas na experiência de vida, que tentam: a) manter a união familiar, b) superar as divergências e c) repassar aos netos a grandiosidade da honestidade com um gesto nobre e único na vida. Com a fé na religião e a esperança de tudo se ajeitar no futuro, essas mulheres enfrentam suas batalhas de amor entre o desprezo dos governantes e a indiferença da lei. No mundo da miséria, qualquer dinheiro acalma a dor. E diante da miséria o cineasta filipino, em menos de meia hora, faz uma radiografia comovente da realidade social do país.
Bibliografia geral consultada.
LEROI-GOURHAM, A., Archéologie du Pacifique Nord. Matériaux pour l`étude des relations entre les peuples riverains d`Asie et d`Amérique. Institut ethnologique. Paris, 1946; ELIADE, Mircea, História das Crenças e das Ideias Religiosas. Vol. 1. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2010; BOSI, Ecléa, Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979; GARCIA, Silvana, A Trombeta de Jericó. Tese de Doutorado em Ciências. São Paulo: ECA/USP, 1997; HERRIGEL, Eugen, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. 15ª edição. São Paulo: Editora Pensamento, 1998; IANNI, Octávio, “Racialização do Mundo”. In: Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. Volume 8, n˚ 1, maio de 1996; KOJÈVE, Alexandre, Introduction à la lecture de Hegel. Paris: Éditions Gallimard, 1973; LIBERMAN, J., Démythifier l` universalité des valeurs américaines. Paris: Parangon, 2004; LINS, Daniel Soares, “Famílias, Famílias...”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 1995; MASLOW, A, El Hombre Autorrealizado. Barcelona: Editora Kairós, 1993; POSTMAN, Neil, O Desaparecimento da Infância. Rio de Janeiro: Editora Graphia, 1999; RODRIGUEZ, Ivan, Para una Sociologia de la Infância - aspectos teóricos y metodológicos. Madrid: C. I. S, 2007; ROUDINESCO, Elisabeth, A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003; SMITH, Dan, O Atlas do Oriente Médio. O Mapeamento Completo de Todos os Conflitos. São Paulo: Publifolha, 2008, entre outros. 

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