segunda-feira, 12 de março de 2012

Etta James: At Last. Ensaio de Etnomusicologia.

   
                                                                                           Ubiracy de Souza Braga*
A Etnomusicologia representa uma das três tradições musicológicas do Ocidente, juntamente com a “Musicologia Histórica” e a “Sociologia da Música”. A Musicologia não nasce no campo epistêmico das Ciências Humanas, e sim “no mundo da música do século XVIII”, como um estudo que objetivava construir “partituras crítico-interpretativas” da música do passado, como é o caso do período do Barroco Musical (1600-1750). A origem da “Musicologia Comparada”, parti pris da Etnomusicologia, está ligada à formação do Berlins Phonogramm Archiv e a figuras como Erich M. Von Hornbstel e Carl Stumpf, que constituem os pesquisadores mais célebres em sua progênie daquilo que se convencionou chamar de “Escola de Berlim” (cf. Elias, 1990; 1993; 1995).
Vale lembrar que Amadeus é um filme estadunidense de 1984, do gênero drama biográfico dirigido por Milos Forman e com roteiro de Peter Shaffer. O roteiro é baseado na peça homônima do próprio Shaffer, livremente inspirado nas vidas dos compositores Wolfgang Amadeus Mozart e Antonio Salieri, que viveram em Viena, na Áustria, durante a segunda metade do século XVIII. O filme se inicia em 1823, quando Salieri, já velho, tenta cometer suicídio, cortando sua garganta enquanto grita por perdão, por ter matado Mozart, há muito já falecido. Após ser internado num hospício, é visitado por um jovem padre, que procura obter a sua confissão. Salieri está amargo e pouco interessado; porém eventualmente fica à vontade com o padre e inicia uma longa “confissão” sobre seu relacionamento com Mozart.
As cenas deste diálogo se processam, ao longo do filme, como se a trama estivesse sendo narrada por Salieri para o padre, durante toda uma noite, até o início da manhã seguinte. Sua narrativa vai então para o início de sua vida adulta, quando se junta à elite cultural da Viena do século XVIII, a “cidade dos músicos”. Salieri começa sua carreira como homem devoto e temente a Deus, acreditando que seu “sucesso e talento”  
como compositor são “recompensas divinas”, e está satisfeito como compositor da corte para o imperador do Sacro Império Romano-Germânico José II. Mozart chega a Viena com o seu mecenas, o conde Hieronymus von Colloredo, arcebispo de Salzburgo. Enquanto Salieri observa Mozart secretamente, no palácio do arcebispo, sem ser apresentado a ele, percebe-o como uma pessoa irreverente e lasciva, ao mesmo tempo em que reconhece o imenso talento de suas obras.
                    Filme: Amadeus (Direção: Milos Forman. EUA, 1984, 158 minutos).
De outra parte, a música dos Estados Unidos em sua historicidade, tem ressonância na população “multiétnica” ou “multiculturalista” através de uma gama de estilos diversos, a saber: Rock and roll, blues, country, rhythm and blues, jazz, pop, techno, e hip hop, entre outros estão entre os gêneros musicais do país mais reconhecidos internacionalmente. Possuem a maior indústria musical do mundo e sua música é ouvida desde o começo do século XX em termos de  audiência global. Muito da moderna música popular tem suas raízes ligadas à música negra americana (com influência do blues) e ao crescimento da música gospel nos anos 1920 do século passado. A base “afro-americana” (cf. Fanon, 1954; 1983; Genovese, 1976; Falcon, 1993) da música popular utilizou elementos vindos da música europeia e indígena. Os Estados Unidos tiveram também influência das tradições musicais e da produção musical na Ucrânia, Irlanda, Escócia, Polônia, América Latina e nas comunidades judaicas e árabes, entre outras.
Etta James, nascida Jamesetta Hawkins, (1938-2012) foi uma cantora norte-americana de blues, R&B, jazz e música gospel. Também era conhecida como Miss Peaches. Nasceu na Califórnia, filha de Dorothy Hawkins, uma afro-americana “mãe solteira” de 16 anos. Filha de pai branco, Etta James procurou saber quem era seu genitor, desconhecido até então, sua mãe diz ser Minnesota Fats e do qual ela “recebia pensão na condição de manter segredo sobre sua paternidade”. Ela teve o seu primeiro contato com a música aos 5 anos de idade, tendo aulas com James Earle Hines, diretor musical da escola Echoes of Eden da Igreja Batista de St. Paul, em Los Angeles. Sua família mudou-se para São Francisco, Califórnia, em 1950, e em 1952 Etta e mais duas amigas formaram o trio: As Creolettes, o qual viria a chamar a atenção de Johnny Otis. O seu nome artístico nasceu da inversão das sílabas por Otis para lhe dar uma melhor sonoridade, assim surgindo o seu nome artístico. A partir daí Otis investiu na garota começando a gravar os seus primeiros temas.
O Rhythm and blues ou R&B foi um termo comercial introduzido nos Estados Unidos no final de 1940 pela revista Billboard. Teve uma série de mudanças no seu significado. Começando na década de 1960, após este estilo de música contribuir para o desenvolvimento do rock and roll, a expressão R&B passou a ser utilizada - especialmente por grupos brancos - para se referir a estilos musicais que se desenvolveram a partir do blues e do associado eletric blues, bem como o gospel e a soul music. Desde a década de 1990, o termo R&B contemporâneo é utilizado principalmente para se referir a um subgênero com influencias de soul e funk na música pop. Em suas primeiras manifestações, o chamado rhythm and blues era uma versão negra de um predecessor do rock. Foi fortemente influenciado pelo jazz, particularmente pelo chamado jump blues (“blues em andamento acima”, mais precisamente o boogie woogie, influenciado por big bands, especificamente o swing) assim como pelo gospel.
            Por sua vez, também influenciou o jazz, dando origem ao chamado “hard bop”, ou um produto da influência do rhythm and blues, do blues e do gospel sobre o bebop, e posteriormente ao Jazz Fusion e Smooth Jazz. Os músicos davam pouca atenção às distinções feitas entre o jazz e o rhythm and blues, e geralmente gravavam nos dois gêneros. Várias bandas, como por exemplo, as que acompanhavam os músicos Jay McShann, Tiny Bradshaw, e Johnny Otis, também gravavam rhythm and blues. Mesmo um ícone de arranjos bebop como Tadd Dameron também produziu arranjos R&B para Bull Moose Jackson, e trabalhou dois anos como pianista de Bull Moose após se estabelecer como músico de bebop. Um dos nomes que se destacou neste gênero foi Muddy Waters.
                                                       Etta James e Beyonce
Não foi só no cabaré pop dos EUA, mas também no do Reino Unido durante os anos 1960, que o R&B atingiu seu auge de popularidade. Sem sofrer o mesmo tipo de distinção racial que limitava sua aceitação nos EUA, os grupos musicais britânicos rapidamente adotaram este estilo de música, e grupos como os Rolling Stones e The Animals levaram o rhythm`n`blues a grandes plateias. O termo caiu em desuso nos anos 1960, e foi substituído por “soul” e “Motown”, porém ressurgiu nos últimos anos para designar a música negra norte-americana abrangendo o pop, fortemente influenciado pelo hip hop, pelo funk, e pelo soul music. Neste contexto, só a abreviatura R&B é usada, e não a expressão toda.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1940-45), e a dificuldade de manter agenda de shows lucrativos, os líderes de algumas “big bands’’ foram forçados a reduzir o tamanho dos grupos no fim dos anos de 1930. Estas grandes bandas reduzidas especializaram-se em hard-swing, boogie-woogie, mais simples e temperados com letras bem humoradas e performances selvagens, e, foram chamadas de jump blues. Um detalhe importante é que esses grupos também chamados de “combo blues” surgiram também devido aos negros em suas dificuldades para manter o custo nas grandes cidades. Foi época da popularização dos negros pra grandes cidades, e foi também no pós-guerra que o consumismo passa a aumentar, e, a guitarra elétrica ou guitarra acústica amplificada, passa a ser mais presente no blues, principalmente o de Chicago. Uma gravação antiga de rhythm & blues ou jump blues pode ser encontrada na canção “Boogie Woogie Bugle Boy’’, de 1941, gravada pelas Andrews Sisters. Outra gravação é de Sonny Boy Williamson I de 1940, como a “New Early In The Morning’’, um blues mais moderno em sonoridade, com a influência antiga do blues, mais o balanço do boogie woogie”.
O “country blues” ou “rural blues” historicamente é o mais antigo gênero do blues, devido ao blues surgir das canções de trabalho nas fazendas de algodão e, o delta blues é o início de tudo. “Piedmont blues” surgiu depois, sendo também dos mais antigos tipos de blues, apesar de Memphis, que é do condado Tennessee ser cortado pelo rio Mississipi (raízes do delta). Contudo o delta blues se expandiu por todo o país. Este estilo foi encontrado principalmente na região entre as montanhas Apalaches ao oeste e planície costeira a leste, que se estende do sul ao norte de Atlanta para Washington DC, e é o mais diferente blues, se diferindo principalmente do delta, devido à característica da música apalache, originando vários estilos como “memphis blues’’ e “jug bands’’ (bandas de jarro). Piedmonte blues é caracterizado pelo andamento mais rápido por causa da sua mistura com ragtime tocado ao banjo, sendo o pai da técnica finger-picking e, pela técnica das “bandas de cordas’’ (string bands) da antiga música country.
 Musicalmente é influenciada pelo ragtime, bandas de cordas, música “apalache” e os “shows ambulantes de medicina” (“traveling medicine shows”), ou seja, é homogêneo de música branca e negra, com sua vasta maioria negra, com exceções como um dos únicos brancos do blues, o Frank Hutchison. Um dos principais nomes do “piedmont blues” é Blind Blake. A “música apalache” é a primeira forma da música country, sendo formado de notas blues, banjo oriundo da África e principalmente da música europeia, e era tocada principalmente por brancos. Ela era chamada de “hillbilly” (caipira), considerada degradante, e foi rotulada de “old-time music” como eufemismo nos anos de 1920 pela Okeh Records para descrever a forma de música de Fiddlin` John Carson, já que a Okeh havia criado a Race Records 3 anos antes com o sucesso do blues de Mamie Smith. O termo “country music” foi adotado nos anos de 1940 para evitar o termo “hillbilly” ainda usado na época.  
Substituiu também o termo “old-time music”. Além disso, a indústria fonográfica separou a música negra como “Race Records’’ para música afro-americana e “hillbilly” para “música de branco”, e não havia uma divisão muito clara das duas músicas, exceto a etnia. Negros e brancos dividiam o mesmo repertório como músicos livres, e foi separado na imigração dos negros para áreas urbanas na década de 1920 em simultâneo com o desenvolvimento da indústria fonográfica. Blues serviu como código por uma gravação designada à vendas para negros, além do racismo. A Okeh foi a primeira gravadora de Race Records e à gravar música country.
Um dos pioneiros a fazerem sucessos no gênero foi Louis Jordan and His Tympany Five, com músicas inicialmente jazz-blues, passa a fazer sons mais dançantes e simples atingindo um público maior, quebrando a separação dos públicos branco e negro. O exemplo mais concreto de reconhecimento deste gênero foi Caldonia em 1945. Outro exemplo jump dele é a “G.I Jive’’ de 1944. O jump blues foi a primeira manifestação reconhecida do estilo musical rhythm & blues, sendo Louis Jordan conhecido como o pai do rhythm & blues. Caledonia é considerado como o nascimento do rock & roll. Por outro lado, com o impulso do jazz dos anos de 1930, o avanço do boogie woogie e pelo avanço tecnológico.
Os músicos influenciados fortemente pelo blues clássico passam a desenvolver o bar blues, onde eram tocados em guetos de Chicago, Detroit, que, era caracterizado pela presença da gaita e pelo blues mais rápido, e, pouco depois seria popularizado por Muddy Waters, Howlin` Wolf, Elmore James, entre outros. Muddy Waters, foi principalmente “blues puro, lento e melancólico”, porém elétrico, conhecido como “blues elétrico’’, e, das poucas canções estilisticamente rhythm & blues no início de sua carreira são a “Last Time I Fool Around With You”, de 1949, “Rollin’ And Tumblin”, entre outras. Estas duas com influência forte do memphis blues. Por sua vez a “Rollin’ And Tumblin” é uma versão de Gus Cannon dos anos de 1920 (“Minglewood Blues”), um grupo de memphis blues de jug band, porem eletrificado, pesado e de roupagem diferente do “piedmont blues” dos anos de 1920 e 1930.
Seus rhythm & blues seguiriam uma linha do piedmont, delta blues, country, cajun, zydeco como Sugar Sweet` de 1955, All Aboard de 1956 e Got My Mojo Working de 1957. O termo por sua vez foi criado por Jerry Wexler em 1948 para tentar quebrar o termo “race music” popularizado pela Race Records, lembrando que, mesmo sendo uma música com certa influência de ambas as raças, era predominada por músicos negros. O “R&B’’ em sua abreviação, se refere também, a tudo que envolvia e envolve até hoje a música negra. Chamado de R&B Charts (paradas de R&B), e, em termos estilísticos o rhythm & blues começou a florescer em meados de 1930, e suas gravações na década de 1940. O estilo era caracterizado pelo 6/8 até os anos de 1950. Nas paradas de R&B também incluíam blues genuínos, melódicos, jazz, swing, boogie woogie e gospel, gravados por músicos negros.
A música se relaciona com vários aspectos sociais e culturais dos Estados Unidos: a estrutura social americana, aspectos étnicos e raciais, religiosos, linguísticos, de gênero, assim como aspectos sexuais. Porém, a relação entre a música e a raça (cf. Boxer, 1963; Chalmers, 1965) talvez seja a mais determinante. Em 1952 Lévi-Strauss já era conhecido nos meios acadêmicos. Mas foi com Raça e História e Tristes Trópicos que suas ideias alcançaram um público bem mais amplo, lançando-o a condição de um dos mais importantes pensadores do século 20. O antropólogo francês havia sido nomeado então secretário-geral do Conselho Internacional de Ciências Sociais da UNESCO, o braço cultural da ONU, com sede em Paris. O ensaio Raça e História, comissionado pela UNESCO era parte de uma coleção cujo objetivo era combater o racismo no plano das ideias.
Trata-se de um verdadeiro panfleto antirracista e um manifesto relativista, o texto apresentou ao público em geral noções do que era professado há tempos nos círculos profissionais antropológicos, mas que era pouco conhecido além da academia. Este relativismo permitiu a Lévi-Strauss criticar não só o pensamento evolutivo mal elaborado do século 19, mas também versões mais sofisticadas de neoevolucionistas como o antropólogo americano Leslie White. Este havia tentado restabelecer o evolucionismo isento de juízos de valor estabelecendo uma linha de progresso a partir de critérios mais objetivos, como a capacidade de utilizar e armazenar energia. Lévi-Strauss aceita a possibilidade de em tese colocarmos as sociedades em uma sequência deste tipo, mas adverte que ainda está se usando uma das obsessões da nossa civilização - a energia - para julgar outras sociedades, para as quais este não é um valor importante. O texto de Lévi-Strauss despertou enorme polêmica, numa época em que o chamado “relativismo cultural”, que hoje parece ser o paradigma dominante, ainda não estava bem estabelecido (cf. Wilcken, 2010).
Ipso facto o desenvolvimento da música negra nos Estados Unidos, independentemente da África e da Europa, tem sido um tema constante no estudo da história da música americana. Existem poucos registros da era colonial, quando estilos, canções e instrumentos da África ocidental se mesclaram no caldeirão da escravidão. Os Estados Unidos é bem conhecido por ser um “caldeirão” de músicas, com influência de várias partes do mundo e criando novos estilos culturais distintos dos outros. Embora os aspectos da música americana terem uma origem específicas, a origem de culturas particulares de músicas é problemática, devido à constante evolução da música americana de transplantar técnicas, instrumentos e gêneros.
Elementos de músicas estrangeiras chegaram aos Estados Unidos tanto pelos canais formais de patrocínio de eventos educacionais e de evangelismo por indivíduos e grupos, quanto por processos formais, como no incidente de transplante da música africana através da escravidão, e da música irlandesa, pela imigração. As músicas americanas mais distintas são resultado das misturas culturais e dos contatos mais próximos. A escravidão, por exemplo, misturou pessoas de inúmeras tribos nas zonas habitacionais resultando em uma tradição musical partilhada que foi enriquecida com elementos de músicas e técnicas indígenas, latinas e europeias. A ética, religião e raças diversificadas Americana produziram vários gêneros de Francês-Africano, como Louisiana Creoles; nativas, como as músicas europeias e mexicanas unidas, e outros estilos como as músicas havaianas.
O processo de transplante de música entre culturas não é isenta de críticas. O renascimento do folk meados do século XX, por exemplo, apropriou-se de músicas rurais de diversos povos, em parte para promover certas causas políticas, o que tem causado alguns a questionar se o processo provocou o “comercial comercialização de outros povos” canções… e ao inevitável diluição da média na apropriação musical. A questão da apropriação cultural também tem sido uma parte importante das relações raciais nos Estados Unidos. O uso de técnicas musicais afro-americanas, imagens e conceitos em música popular em grande parte por brancos e para os americanos têm sido difundidos pelo menos desde meados do século XIX canções de Stephen Foster e com o aumento de trovador shows. A indústria fonográfica americana tem tentado ativamente para popularizar executantes brancos de música afro-americana, porque eles são mais saborosos e de integrar a classe média americana. Este processo tem produzido tais variou estrelas como Benny Goodman, Eminem e Elvis Presley, bem como estilos populares como Blue eyed soul e rockabilly.
Os ancestrais da população afro-americana foram trazidos aos Estados Unidos como escravos, trabalhando primariamente nas plantações do sul. Eles foram de centenas de tribos através do oeste da África, e trouxeram certos traços da música do oeste africano incluindo vocais chamadas e resposta e música rítmica complexa, como também a batidas síncope e acentos variáveis. A música da África foca em canto e dança rítmicos trazidos para o Novo Mundo, e aonde se tornou parte de uma cultura folk distinta que ajudou os africanos a “reter a continuidade com seu passado através da música”. Os primeiros escravos nos Estados Unidos cantavam músicas de trabalho, “gritos de campo” e, seguindo a cristianização, hinos. No século XIX, um grande avivamento de fervor religioso contagiou as pessoas através do país, especialmente no sul. Hinos protestantes escritos na maior parte por pregadores da Nova Inglaterra se tornou parte dos encontros campestres mantidos entre cristãos devotos através do sul. Quando negros começaram a cantar versões adaptadas destes hinos, foram chamados de espirituais negros. Foi desta raiz, de músicas espirituais, músicas de trabalho e cantos de campo, que o blues, jazz e o gospel se desenvolveram.
O blues se tornou parte da música popular americana nos anos 1920s, quando as cantoras de blues clássico feminino como Bessie Smith ficaram populares. Ao mesmo tempo, gravadoras lançaram o campo da música instantânea, que tinha como alvo na maioria o blues nas audiências afro-americanas. O mais famoso destes atos inspirou muito do posterior desenvolvimento popular do blues e gêneros derivados, incluindo o legendário artista de blues delta Robert Johnson e o artista de blues piedmont Blind Willie McTell. Pelo final dos anos 1940, entretanto, o blues puro foi somente uma menor parte da música popular, tendo sido relevado por estilos como rhythm & blues e o nascente estilo rock and roll.
 Duke Ellington (em pé, sem instrumento) com sua big band. Áureos períodos do jazz.
Alguns estilos de blues com pianos elétricos, como o boogie-woogie, reteve uma larga audiência. Um estilo de gospel com blues também se tornou popular no cenário principal da América nos anos 1950, liderado pelo cantor Mahalia Jackson. O gênero do blues experimentou os maiores reavivamentos nos anos de 1950 com os artistas do Chicago blues como Muddy Waters e Little Walter e também nos anos 1960 na iminência da invasão britânica e reavivamento da música folk americana quando homens do blues country como Mississipi John Hurt e o Reverendo Gary Davis foram redescobertos. Os artistas de blues originários deste período tiveram tremenda influência em músicos do rock como Chuck Berry nos anos de 1950, e também nas cenas do blues britânico e blues-rock dos anos 1960 e 1970, incluindo entre outros, Eric Clapton na Inglaterra e Johnny Winter no Texas.
O jazz influenciou muitos artistas de todos os principais estilos das posteriores músicas populares, ainda que o próprio jazz nunca mais tenha sido uma parte maior da música popular americana como durante a era swing. A cena do jazz americano do final do século XX, entretanto, produziu algumas estrelas populares, como Miles Davis. Na metade do século XX, o jazz se dividiu em vários subgêneros, começando com o bebop. O bebop é uma forma de jazz caracterizado por tempos rápidos, improvisação baseada em estrutura harmônica ao invés de melodia, e o uso do trítono. O bebop foi desenvolvido no início e metade dos anos 1940, depois se desenvolvendo em estilos como o “bop hard” e “free jazz”. Inovadores no estilo incluem Charlie Parker e Dizzy Gillespie, que surgiram de pequenos clubes de jazz em Nova York.
       HOBSBAWM, Eric J., História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
Curiosamente o historiador marxista Eric Hobsbawm não dissocia o jazz do blues: argumenta que a essência do ritmo mais melódico e triste está ali no jazz de alguma forma, principalmente nos vocais das grandes divas do jazz como Ella Fittzgerald e Billie Holiday. São gêneros que nasceram mais ou menos no mesmo período e cresceram de mãos dadas, por mais que se separassem no meio do caminho. O autor também mostra as características do ritmo, pelo menos as que estavam firmadas até aquele período. Hoje em dia, provavelmente ele teria que reescrever os trechos em que afirma que as cordas não eram muito profícuas para um gênero como o jazz - a partir do movimento fusion, impulsionado por Miles Davis no início dos anos 1970, músicos como John McLaughlin e mesmo Frank Zappa priorizaram a guitarra como poucos, graças ao evidente virtuosismo de cada um deles e também graças à influência do rock’n roll.                Em muitos trechos do livro, Hobsbawm faz uma clara separação entre brancos e negros, sempre enfatizando a importância deste último para a evolução do gênero. Segundo ele, os negros incorporaram a discriminação secular na forma de fazer música e tinham um contato quase espiritual com o instrumento. Não à toa, os maiores músicos de jazz são negros: Louis Armstrong, Count Basie, Duke Ellington, Charlie Parker, Dizzy Gillespi. Para o autor, eram raros os músicos brancos que acompanhavam a vívida energia dos negros. Isso porque o jazz vem das classes mais baixas e, pelo menos até os anos 60, estava em um período de transição para a música erudita - algo que nunca fui nem nunca será. O jazz começou a ser percebido como música “sofisticada” somente após o “movimento revivalista”, durante o pós-II Guerra Mundial.
O público começou a perceber o ritmo como uma profusão de instrumentos que só podia ser entendido através do fator emocional. Ao contrário da música clássica, que cria uma ambientação complexa para fazer com que os sentidos floresçam, com o jazz fica perceptível o sentimentalismo dos músicos. Por isso, em muitas vezes, não é preciso voz. Eric Hobsbawm mesmo disse que são poucos músicos homens que se destacariam nos vocais (o que se percebe até hoje, mesmo com o impacto da bossa nova). A 21 de novembro de 1962, Tom Jobim foi um dos destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova Iorque. Gravou discos nos Estados Unidos e fundou a sua própria Editora, a Corcovado Music. Em 1967 gravou com Frank Sinatra. Vinícius de Moraes nasceu a 19 de Outubro de 1913, no Rio de Janeiro, e faleceu a 9 de Julho de 1980. Foi um poeta, compositor, diplomata e jornalista brasileiro.
A “Bossa Nova” é considerada um subgênero musical derivado do samba e com forte influência do jazz estadunidense, surgido no final da década de 1950 no Rio de Janeiro. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba naquela época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do moderno samba carioca urbano. Com o passar dos anos, a Bossa Nova tornar-se-ia um dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira, conhecido em todo o mundo e, especialmente, associado a João Gilberto, Nara Leão, Vinicius de Moraes, Antônio Carlos Jobim, Baden Powell e Luiz Bonfá.
A palavra “bossa” apareceu pela primeira vez na década de 1930, em “Coisas Novas”, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...). A expressão bossa nova passou a ser utilizado também na década seguinte para aqueles “sambas de breque”, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas. Alguns críticos musicais destacam certa influência que a cultura americana do Pós-Guerra, de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do cool jazz e bebop. Embora tenha pouca influência de música estrangeira como o Jazz, a Bossa Nova possui elementos de samba sincopado. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a Bossa Nova (cf. Braga, 2012).
Enfim, para os fãs de Jazz, as escolhas parecem não ter fim, dos refinados clubes no Village, incluindo nomes como Blue Note Jazz aos decadentes e vibrantes clubes vintages no Harlem como o Lenox Lounge, você pode experimentar vários estilos e ver e ouvir diferentes apresentações na cidade de Nova York, em uma mesma noite. Um dos mais refinados restaurantes e clubes de Jazz de Nova York, com filiais em Milao, Tokyo e Nagoya. Ipso facto apresenta novos nomes do Jazz e conta com a benção de nomes como Sarah Vaughn, Lionel Hampton, Dizzy Gillespie, Stanley Turrentine, Oscar Peterson, Ray Brown, and Tito Puente, os quais chamam o Blue Note Jazz de “minha casa”. Nomes como Stevie Wonder, Tony Bennett, Liza Minelli, ou Quincy Jones são chamados para cantar ao vivo no palco, porque “eles costumam frequentar a casa e sem aviso cantam no palco”.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Bibliografia geral consultada:
BRAGA, Ubiracy de Souza, “Há 50 anos o Mundo (en) canta Garota de Ipanema”. Disponível em: http://estudosviquianos.blogspot.com/2012/03; Filme: Sacco e Vanzetti (idem, direção: Elio Petri, ITA, 1971); MARSAL, Manuel, O Caso de Scottsboro: o negro nos Estados Unidos. São Paulo: Nosso Livro, 1934; FAULKNER, H. U., História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Editorial Nova, 1956; BOXER, C. R., Race Relations in the Portuguese Colonial Empire, 1415-1825. Oxford: Clarendon, 1963; CHALMERS, David, Ku Klux Klan. Los americanos encapuchados 1865-1965. Barcelona: Grijalbo, 1965; GENOVESE, Eugene, A Economia Política da Escravidão. Rio de Janeiro: Palas, 1976; WILLIAMS, Eric, Capitalismo e Escravidão. Rio de Janeiro: Palas, 1978; PURVIS, Thomas L., A Dictionary of American History. Blackwell Publishers, 1997; NOBLE, David., América by design - Science, Technology and the Rise Corporate Capitalism. New York: Alfred A. Knopf Editeur, 1977; WILLIAMS, Eric, Capitalismo e Escravidão. Rio de Janeiro: Palas, 1978; SCHLESINGER Jr, Arthur, The Disuniting of America (reflection on a multicultural society). New York, 1992; ASKOLDOVA, Svetlana, 100˚ Aniversário dos Acontecimentos de Chicago 1886-1986. Moscovo: Edições da Agência de Imprensa Nóvosti, 1986; KOMARA, E. M., Encyclopedia of the blues. Routledge, 2006, p. 118; PETERSON,  Richard A., Creating Country Music: Fabricating Authenticity, 1999, p. 9; OAKESHOTT, Michael, El Racionalismo en la Política y Otros Ensayos. México: Fondo de Cultura Económica, 2000; ELIAS, Norbert, O Processo Civilizador. Volume 1. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1990; Idem, O Processo Civilizador. Volume 2. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1993; Idem, Mozart, sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995; Idem, MACIEL, Luiz Carlos, “Rhythm And Blues”, 2009; FALCON, Rafael, Lo Afronegroide en el cuento puerto-riquenho. Miami: Ediciones Universales, 1993; FERGUSON, Marjorie, “Marshall McLuhan”. In: Revista Media, Culture and Society. Vol. 13, n˚ 1, jan., 1991; FRANCO, Paul, Michael Oakeshott An Introduction. Yale: University of Yale, 2004; WILCKEN, Patrick, The Poet in the Laboratory. Penguin Books, 2010; MENEZES BASTOS, Rafael José de, “Esboço de uma Teoria da Música: Para Além de uma Antropologia sem Música e de uma Musicologia sem Homem”. In: Anuário Antropológico 95, 1994; FREYRE, Gilberto, Social Life in Brazil in the Middle of the 19th Century. Tesis PhD.: University Columbia, 1923; GAMALERI, Giampiero, La Galaxia McLuhan. Roma: A. T. E., 1981; CLAGHORN, Charles Eugene, Biographical Dictionary of American Music.: Parker Publishing Company, Inc, 1973; FALCON, Rafael, Lo Afronegroide en el cuento puerto-riquenho. Miami: Ediciones Universales, 1993; COULON, Alain, Etnometodologia. Petrópolis (RJ): Vozes, 1995a; Idem, A Escola de Chicago. Campinas: Papirus, 1995b; HOBSBAWM, Eric J., História Social do Jazz. 5ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007, entre outros. 

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