Obrigatória no ensino
médio há quatro anos, disciplina não desperta interesse nos estudantes.
Filósofos tentam encontrar solução para mudar esse quadro.
Por Célio Yano
Por Célio Yano
Filósofos têm usado uma
expressão bastante popular para definir a decisão do Ministério da Educação de
instituir, em 2008, a obrigatoriedade do ensino de filosofia para alunos de
nível médio. A medida, que, por um lado, é vista como positiva, por outro,
teria sido ‘enfiada goela abaixo’, uma vez que não foi precedida de iniciativas
que permitissem sua aplicação de modo eficiente.
Tanto é que quatro anos
depois da sanção da lei 11.684/2008, que inclui a disciplina de filosofia –
além da de sociologia – no currículo do ensino médio, grande parte dos
professores está despreparada para lidar com a matéria, constatam os
pesquisadores da área. Diante do problema, filósofos de todo o país defendem a
criação de linhas de pesquisa e até programas de pós-graduação específicos para
o desenvolvimento do ensino nas escolas.
Na Associação Nacional
de Pós-graduação em Filosofia (Anpof), o tema ganha cada vez mais espaço. No
último encontro nacional da entidade, realizado no fim de outubro em Curitiba,
um conjunto inédito de eventos paralelos foi organizado para discutir os
problemas e as possíveis soluções envolvidas com a questão.
Para Patrícia Velasco,
da Universidade Federal do ABC (UFABC), o primeiro ponto a se refletir é que,
apesar de ter relação com a área de educação, o ensino de filosofia deveria ser
objeto de estudo por parte de filósofos. “Hoje, o professor que pretende se
especializar tem de recorrer a programas de pós-graduação na área de educação”,
lembrou, durante o encontro da Anpof.
“Acredito que há
pressupostos filosóficos no ensino de filosofia, como a própria identidade da
filosofia”, disse. “Diferentes respostas geram diferentes métodos de ensino.”
Daí viria a necessidade de criação de programas de pós-graduação, em filosofia,
voltados para a pesquisa sobre ensino, o que ainda não existe no Brasil.
Embora não seja consensual, muitos pesquisadores defendem a criação de mestrados profissionais em filosofia para aprimorar a formação de professores de educação básica. O modelo seria o mesmo do Profmat, programa de especialização financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para professores de matemática da rede pública.
Embora não seja consensual, muitos pesquisadores defendem a criação de mestrados profissionais em filosofia para aprimorar a formação de professores de educação básica. O modelo seria o mesmo do Profmat, programa de especialização financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para professores de matemática da rede pública.
O consenso entre os
pesquisadores da área é que, diferentemente de outras matérias, a filosofia não
pode ser ensinada por meio da simples transferência de conhecimento para os
alunos. “Professor e estudante são, simultaneamente, sujeito e objeto da
disciplina”, definiu o filósofo Luciano Kaminski, do Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
e professor do ensino médio em Curitiba.
Para ele, o modelo
engessado da educação básica no Brasil é outro entrave para a evolução do
ensino de filosofia. “É preciso repensar o tempo de aula, a abrangência do
conteúdo e os métodos de avaliação.”
À carência de políticas
voltadas para a formação de professores de filosofia, soma-se o que o filósofo
Filipe Ceppas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considera a falência
do atual modelo escolar. “Nossa escola nunca foi suficientemente republicana
nem democrática, por estar baseada em princípios como a disciplinarização e a
meritocracia”, afirmou. “A filosofia e os professores de filosofia têm muito a
contribuir no sentido de reverter essa situação, mas o debate precisa ser
horizontal, ou seja, deve envolver toda a comunidade filosófica.”
A experiência dos
professores
Enquanto se discutem
medidas políticas para a melhoria no sistema de ensino de filosofia,
professores de nível médio lançam mão da criatividade para obter resultados em
suas aulas. Algumas iniciativas foram apresentadas no encontro da Anpof.
O professor Rui Valese, do Colégio Estadual Deputado Arnaldo Busato, de Pinhais (PR), por exemplo, conseguiu estimular estudantes de primeiro e segundo ano a refletir sobre conceitos de felicidade e satisfação com um método que envolveu diálogos interdisciplinares.
Com auxílio de professores de biologia e química, os alunos estudaram a composição química de lanches da rede de lanchonetes McDonald’s e os efeitos que os ingredientes podem ter no organismo humano. O objetivo era, por meio dos quatro passos do método cartesiano para construção da verdade, responder a uma pergunta: “O McLanche Feliz traz felicidade?”
O professor Rui Valese, do Colégio Estadual Deputado Arnaldo Busato, de Pinhais (PR), por exemplo, conseguiu estimular estudantes de primeiro e segundo ano a refletir sobre conceitos de felicidade e satisfação com um método que envolveu diálogos interdisciplinares.
Com auxílio de professores de biologia e química, os alunos estudaram a composição química de lanches da rede de lanchonetes McDonald’s e os efeitos que os ingredientes podem ter no organismo humano. O objetivo era, por meio dos quatro passos do método cartesiano para construção da verdade, responder a uma pergunta: “O McLanche Feliz traz felicidade?”
Para ensinar filosofia
política, a professora Joselaine Perin, da escola estadual Ceciliano Abel de
Almeida, em São Mateus, no Espírito Santo, organizou uma viagem de 350 km para
levar seus alunos à Assembleia Legislativa do estado, localizada na capital,
Vitória. Coincidiu de, no dia da visita, encontrarem os servidores da Casa em
greve por melhores salários, e os deputados em sessão na qual votavam o aumento
dos próprios vencimentos.
“Conseguimos abordar um parlamentar e os alunos questionaram o que estava acontecendo”, contou. Segundo Perin, há muita dificuldade de se trabalhar com textos clássicos com os alunos, uma vez que muitos deles chegam ao ensino médio ainda semialfabetizados.
“O maior erro é usar a metodologia do ensino universitário”, disse o professor Renato Velloso, do Instituto de Educação Governador Roberto da Silveira, em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro. Velloso é autor de Lecionando filosofia para adolescentes, livro que descreve métodos de ensino que professores da área podem seguir.
A ideia é compartilhada por Danilo Marcondes, coordenador da área de filosofia na Capes. “Estamos acostumados a dar aula para alunos de filosofia, que, supõe-se, têm interesse pelo tema. Os alunos de ensino médio são obrigados a estudá-la”.
Fonte: Ciência Hoje On-line/ PR
“Conseguimos abordar um parlamentar e os alunos questionaram o que estava acontecendo”, contou. Segundo Perin, há muita dificuldade de se trabalhar com textos clássicos com os alunos, uma vez que muitos deles chegam ao ensino médio ainda semialfabetizados.
“O maior erro é usar a metodologia do ensino universitário”, disse o professor Renato Velloso, do Instituto de Educação Governador Roberto da Silveira, em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro. Velloso é autor de Lecionando filosofia para adolescentes, livro que descreve métodos de ensino que professores da área podem seguir.
A ideia é compartilhada por Danilo Marcondes, coordenador da área de filosofia na Capes. “Estamos acostumados a dar aula para alunos de filosofia, que, supõe-se, têm interesse pelo tema. Os alunos de ensino médio são obrigados a estudá-la”.
Fonte: Ciência Hoje On-line/ PR
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